Relatório lançado pelo think tank britânico Ember na última quarta-feira, 12 de abril, revelou que o Brasil viveu a maior queda absoluta do mundo nas emissões do setor elétrico em 2022. De acordo com a análise, o mix elétrico brasileiro emitiu 69 milhões de toneladas de CO2 no ano passado, queda de 34% ou de 36 MtCO2 em relação a 2021, quando a emissão ficou em 105 milhões de toneladas. Apenas a Ucrânia, que está sob ataque russo, viu declínio percentual comparável, de 38%, com a segunda maior redução nas emissões, de 14 MtCO2.

De acordo com a análise, a queda no Brasil veio em decorrência da diminuição do uso de UTEs, em função do aumento, de um ano para o outro, da geração hidrelétrica em 18%, indo a 65 TWh. A hidroeletricidade, com 363 TWh, estava em seu nível mais baixo desde 2015, e com a volta das chuvas em 2022, foi ao nível mais alto desde 2011, registrando 428 TWh.

Outro fator que contribuiu para a queda de emissões no ano passado foi o crescimento de 12% da geração eólica e 30% da solar. As duas fontes permitiram uma substituição da energia fóssil, principalmente do gás, com recuou de 46%. De acordo com o pesquisador do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Jr, há um efeito sanfona das emissões do setor elétrico brasileiro: a maior queda do mundo em 2022 precedida por uma das maiores altas em 2021.

O pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente e do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, Felipe Barcellos e Silva, avalia que para superar essa gangorra, que pode acontecer novamente no futuro, é preciso priorizar de maneira assertiva quais fontes complementarão a hidreletricidade.

Globalmente, a energia somada de eólica e solar atingiu um recorde de 12% da eletricidade em 2022, contra 10% em 2021. Em toda a América do Sul, Uruguai, com 36% e Chile, com 28%, têm as maiores cotas de energia eólica e solar. Mais de 60 países geram atualmente mais de 10% de sua eletricidade a partir do vento e do sol, incluindo o Brasil (15%) e a Argentina (12%). A solar foi a fonte que mais cresceu no mundo pelo 18° ano seguido, aumentando 24% de um ano para outro e adicionando eletricidade suficiente para abastecer toda a África do Sul. A geração eólica aumentou 17% em 2022, o suficiente para energizar quase todo o Reino Unido.

A Ember estima que o ano passado pode ter sido o “pico” das emissões de eletricidade e o último ano de crescimento da energia fóssil, com a eletricidade renovável atendendo a todo o crescimento da demanda em 2023. Haveria uma pequena queda de 0,3% na geração de eletricidade fóssil este ano, com quedas maiores nos anos seguintes, à medida que a implantação de renováveis for acelerada.