As atividades nucleares no Brasil podem atrair um total de US$ 70 bilhões em investimentos até 2050, gerando 50 mil empregos. Esses investimentos não estariam destinados apenas para o uso na energia nuclear. Setores como a mineração, o de tecnologia médica e o reator nuclear também estão inseridos no plano. De acordo com o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Atividade Nuclear, Celso Cunha, que esteve na abertura do Nuclear Trade& Technology Exchange, realizado na última quarta-feira, 3 de maio, o montante está baseado nas premissas do PNE 2050 e em usinas adicionais do modelo SMR.
Na parte de mineração e combustível nuclear, o foco será na expansão do urânio. O Brasil possui uma das maiores reservas do mundo. Caetité é a produção atual, mas a mina de urânio associado de Santa Quitéria (Ceará) retomou seu processo de licenciamento. Segundo Cunha, as reservas dessas minas são capazes de suprir as usinas de Angra 1, 2 e 3, além de uma quarta e ainda sobra para comercialização. Isso iria demandar uma ampliação na fábrica da Indústrias Nucleares do Brasil com tecnologia brasileira, o que demandará mais investimentos e eliminaria a dependência de mercados externos. Ainda de acordo com Cunha, a região do Cristalino entre o Mato Grosso e o Pará, também poderá ser uma nova fronteira de exploração mineral para a atividade nuclear.
Sobre a usina de Angra 3, Cunha acredita na retomada definitiva da obra. O fato de ter sido um projeto lançado ainda na outra passagem do presidente Lula é um fato a favor da continuidade do empreendimento. Para ele, setembro será considerado um mês chave para a usina, com a expectativa que até lá mais anúncios e diretrizes, como o financiamento, sejam divulgados. Este ano também é vital, para o programa nuclear brasileiro, uma vez que uma grande empresa internacional deverá ser requisitada para a conclusão da usina, mas apenas uma nova usina pode assegurar a sua permanência no Brasil. “A quarta usina é fundamental para manter o interesse [estrangeiro]. Temos grandes empresas nacionais com capacidade de fazer uma boa parte das coisas, mas ainda precisa das estrangeiras, não dá para fazer tudo sozinho”.
Ainda de acordo com Cunha, a demora do Ministério de Minas e Energia em definir os nomes que irão comandar as estatais ligadas à área nuclear traz insegurança. O governo ainda não decidiu os presidentes da EnBPar, INB, Nuclep e Eletronuclear. Segundo ele, há por parte do mercado a preocupação se tratativas e negociações estão sendo feitas com as pessoas certas. “Ninguém quer risco”, avisa. por outro lado, ele admite que as nomeações devem ser criteriosas, uma vez que Angra 3, por exemplo, é uma obra bilionária e envolve altos contratos.
A mão de obra foi outro ponto que Cunha abordou durante o evento. As próximas centrais nucleares irão demandar pessoal. Muitos profissionais estão se aposentando e com a demora na conclusão de Angra 3, a transferência de conhecimento pode ser afetada. Há lacunas na gestão e no canteiro de obras. Atualmente a UFRJ forma cerca de 30 engenheiros nucleares por ano. O último concurso da Amazul para engenheiros dessa área absorveu 15 graduados.