Expectativa para o leilão de reserva para esse ano por parte da Eneva é de uma contratação total de algo em torno de 8GW, onde parte será descontratada por térmicas até 2028. “Acreditamos que mesmo que tenha e que o leilão busque a neutralidade tecnológica, que a térmica possa vir a competir com outras fontes. A tendência para esse tipo de produto que preza pela confiabilidade é que as térmicas tendem a ser as mais competitivas para esse tipo de leilão”, disse o diretor de comercialização da companhia, Marcelo Lopes, em teleconferência realizada nesta terça-feira, 16 de maio.
Com relação a geração por substituição de usinas flexíveis, Lopes acredita que é uma oportunidade e eles já vem trabalhando com alguns parceiros interessados. “Já mapeamos e tem alguns desafios ainda a serem esperados, um deles é o regulatório, pois ainda não existe um regulamento vigente e ao mesmo tempo nós estamos desenvolvendo um modelo junto com potenciais parceiros e isso funciona. Estamos trabalhando nos contatos e ao tempo estamos engajados junto com os times regulatórios para buscar viabilizar essa possibilidade no campo regulatório”, ressaltou.
Argentina
Durante a teleconferência, os executivos afirmaram que as vendas para a Argentina são trianguladas por uma comercializadora no Brasil e tem uma garantia bancária, feita por um banco de primeira linha, suportando que o recebimento vai acontecer por parte do gerador. “Nessa triangulação existem dois instrumentos de garantia, a Argentina garante através de uma fiança bancária com um banco de primeira qualidade o recebimento e a comercializadora através de uma outra estrutura de garantia, algumas vezes no mesmo banco, garante o recebimento do gerador consequentemente aqui no nosso caso para a Eneva”, disse.
Hoje na Argentina, o segmento de transmissão conta a conversora de Garabi, que tem uma capacidade de 2.2 GW de transferir energia do Brasil para lá e tem a conversora de Melo, que é com o Uruguai, que são 500 MW. Segundo os executivos da Eneva, é possível ter um total de capacidade de transmissão conectando o Brasil com Argentina e Uruguai de 2.7 GW.
Com relação a questão de como que o complexo de Parnaíba compete com outras térmicas nessa exportação, eles tem percebido que no início do ano, em virtude da alta disponibilidade hídrica, o vertimento turbinável acabou tomando boa parte da energia exportada para Argentina, porém com o fim do período úmido e a redução do nível de reservatório, essa energia turbinável tende a caminhar para zero e vai voltar a ser uma exportação com base térmica. Eles ainda destacaram em teleconferência que basicamente existem três players que tem atendido essa demanda através de geração térmica, que são as técnicas de cogeração da Petrobras, as térmicas a carvão da região sul e Parnaíba por conta do modelo R2W que traz flexibilidade e competitividade.
De acordo com os executivos, esses players têm atendido a demanda limitada a essa capacidade de transmissão. Eles acreditam que o período úmido já esta no final e o vertimento turbinável ainda está acontecendo, porém com volumes menores e tende a caminhar para zero e a tendência é que a geração termelétrica atenda essa demanda de exportação sendo uma demanda perene ao longo do ano.
Eles ainda destacaram que a entrada do gasoduto, pelo menos o tramo que já está previsto que vai entrar nesse ano, não deve mudar a possibilidade da Eneva continuar exportando e com o segundo tramo, que é previsto mais para o final deste ano e início do ano que vem, a companhia tem uma expectativa que nos períodos de verão a Argentina consiga se atender com geração própria e nos períodos de inverno onde a demanda de gás aumenta muito por conta da questão da calefação vai continuar havendo espaço para exportar energia do Brasil para a Argentina.
Pagamento de dividendos e JCP
Com relação aos pagamentos de dividendos, o diretor financeiro e de relações com investidores da Eneva, Marcelo Habibe, afirmou que a companhia ainda apresenta prejuízo acumulado, porém vem sendo reduzido ano após ano. “Gradativamente caminhamos para o zero e a partir daí podemos pensar em remunerar os acionistas. Esse ano não teremos, mas a partir de 2024 devemos pagar”, afirmou.
Lucro melhora no primeiro trimestre
A Eneva fechou o primeiro trimestre de 2023 com lucro de R$ 223 milhões, superando também o resultado do 1T22 em 21%. O ebitda da companhia alcançou a maior marca da história da companhia para um trimestre, R$ 1,2 bilhão, o que significa crescimento de 146% frente ao 1º trimestre de 2022 e de 107% se comparado ao trimestre imediatamente anterior.
As principais contribuições para o ebitda se devem à entrada do Hub Sergipe (antiga Celse) e da Termofortaleza (CGTF) no portfólio da companhia, cujas aquisições foram concluídas no segundo semestre de 2022 e não figuravam no resultado do 1º tri daquele ano (adicionando R$ 347 milhões e R$ 124 milhões ao indicador, respectivamente); e à Comercializadora da Eneva agregando R$ 269 milhões ao ebitda nesses primeiros três meses, por assinatura de contratos com clientes no mercado livre.
A receita líquida da companhia atingiu os R$ 2,5 bilhões, superando o recorde do período imediatamente anterior (4º tri de 2022) em 6%. Se comparado ao mesmo período de 2022, o aumento foi de expressivos 224%. Os bons resultados se devem ao trabalho de diversificação de receitas intensificado no ano passado pela companhia, como forma de depender cada vez menos das condições hidrológicas do país.
No quesito geração de energia, a empresa continuou exportando eletricidade para a Argentina neste primeiro trimestre, diretamente do Complexo Parnaíba, no Maranhão. A venda para o país vizinho gerou EBITDA de R$ 39 milhões para a companhia. Já a Usina Termelétrica (UTE) Jaguatirica II, em Roraima, contribuiu com R$ 69 milhões para o indicador, resultado do aumento de disponibilidade para o Sistema Isolado do Estado. Outro importante marco atingido foi o início dos testes de energização do Complexo Solar Futura, em Juazeiro, na Bahia, que entrará em operação comercial em breve.
Para finalizar, os investimentos da companhia no trimestre somaram R$ 516,8 milhões, sendo que 62,7% desse montante foram destinados aos projetos em construção.