Se o vazamento de 90 litros de água com baixo teor radioativo de Angra 1 em setembro do ano passado não trouxe impactos ambientais a Baía de Itaorna (RJ), o conhecimento do evento através dos meios midiáticos em 2023 trouxe diferentes percepções entre a população, tendo sido algo prejudicial para a imagem da Eletronuclear e a cidade de Angra dos Reis (RJ). A avaliação é do diretor-presidente da empresa, Eduardo Grivot, que esteve presente em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados nessa terça-feira, 16 de maio.
“Não estou aqui minimizando o que aconteceu, pois não é algo aceitável nem é o padrão da Eletronuclear e estamos tomando todas as medidas para que eventos como esse não voltem a acontecer”, salientou o executivo, afirmando que a comunicação não foi feita na época pois havia o entendimento de que se tratava de um incidente sem riscos e não um acidente, com a dose de radiação muito abaixo dos limites nos quais a empresa é obrigada a reportar, cerca de 1,5% abaixo do valor estipulado pela CNEN.
A companhia está inclusive contestando a multa aplicada de R$ 2 milhões pelo Ibama por conta do vazamento não planejado e mais uma penalidade de R$ 101 milhões por não ter procurado os órgãos competentes quando ficou sabendo da ocorrência.
Grivot ressaltou que a partir das discussões recentes com Ibama e o Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) passou a ser acordado que a empresa irá realizar a plena comunicação em eventos desse tipo, independente se foi acidente ou incidente. “A percepção que a população teve fez a gente rever esse procedimento, sendo algo ruim para a empresa e o município a partir de um problema que não trouxe impactos ambientais”, analisa.
A causa para o vazamento foi uma sobrepressurização em uma das válvulas da usina, o que permitiu a passagem da água contaminada por uma canaleta, com uma chuva posterior levando-a para o mar. Segundo as equipes técnicas da central, foram coletadas amostras que não detectaram radionuclídeos na água ou no mar, apenas três na Praia de Itaorna, mas também abaixo dos limites estipulados pela regulação, com apenas um demorando mais a desaparecer, o elemento manganês.
Foi informado que a análise aconteceu por meio de duas medições independentes, uma do laboratório da empresa, creditado pelo Inea e por uma rede internacional ligada a Agência Internacional de Energia Nuclear, e a contraprova da CNEN, que atende também ao Ibama. As coletas de água e sedimentos são feitas conjuntamente e depois é feita a divisão, com a confrontação dos resultados.
O Coordenador-Geral no Ibama, Régis Fontana, lembrou que a Eletronuclear demorou 4 meses para admitir o vazamento e que de fato os impactos para o meio-ambiente foram mínimos, ainda que o risco não tenha ficado bem caracterizado pela negativa da empresa num primeiro momento. “Teve impacto social, de colocar as populações apreensivas e colocar em xeque o funcionamento da usina”, aponta, lembrando a necessidade de informação de ocorrências mesmo em concentrações mínimas de contaminação.
Já o prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão, criticou o não cumprimento de normas internacionais ignoradas pela companhia, que omitiu o evento e passou a enviar relatórios após a denúncia e a partir das solicitações. “Nós fomos maridos traídos e não é a empresa que decide se irá comunicar qualquer acidente ou incidente”, conclui.