Apesar do Brasil possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, as fontes fósseis ainda representaram pouco mais de 53% da oferta interna de energia – considerando geração e transporte – em 2021, segundo dados da EPE. O setor correspondeu a 25,3% das emissões de CO2 no país, configurando a segunda maior contribuição de emissões do cenário nacional. Isso abre espaço para que o país consiga gerar receitas entre US$ 14 bilhões a US$ 20 bilhões ao ano.
Essa é a constatação de um estudo inédito realizado pela CCS Brasil, organização sem fins lucrativos que visa estimular as atividades ligadas à Captura e Armazenamento de Carbono no país. Os números estimados levam em conta dois cenários, o conservador que resultou no menor dos dois valores apontados e o otimista. O conservador considera um valor de US$ 70 por tonelada de CO2 como preço do crédito de carbono. O Otimista já indica um preço de US$ 100 por tonelada do produto.
No entanto, a CCS Brasil aponta que para projetos de CCS possam ser elegíveis para créditos de carbono, é necessário que as metodologias de certificação de redução de emissões sejam atualizadas e considerem as tecnologias de CCS como elegíveis. O Brasil ainda carece de regulamentação específica, fato que é apontado como um obstáculo para a sua implementação concreta em território nacional.
Apesar desse momento, a entidade lembra que há iniciativas em direção à regulação e normatização das atividades por aqui e são bastante recentes. No ano passado, cita o Programa Combustível do Futuro, e ainda a apresentação, em 31 de maio, do PL 1425/2022 de autoria do então Senador Jean Paul Prates, (PT-RN) e hoje presidente da Petrobras, que estabelece o marco regulatório de CCS e dispõe sobre a atividade econômica de armazenamento de CO2 como uma atividade de interesse público.
Os projetos de CCS vinculados à produção de bioenergia (BECCS) apresentam potencial entre US$ 2,7 bilhões e US$ 3,8 bilhões por ano. Esses valores não consideram o potencial para emissões líquidas negativas, resultantes da aplicação de tecnologias de CDR (Remoção de Dióxido de Carbono, na sigla em inglês), que inclui BECCS.
Os cálculos são feitos com base no potencial de captura que o Brasil pode ter anualmente, de cerca de 200 milhões de toneladas de CO2 e que considera os potenciais de CCS em diversos setores produtivos brasileiros.
Atualmente, o Brasil possui três iniciativas relacionadas a CCS em estágios diferentes de desenvolvimento, cada uma com suas particularidades e potencialidades. De acordo com o estudo, são projetos que podem contribuir para a redução das emissões de CO2 e para a construção de uma economia mais sustentável e responsável com o meio ambiente. Desses, apenas um está em operação e é da Petrobras.
No setor de energia elétrica, a tecnologia está diretamente ligada à geração térmica, a utilização dos combustíveis em indústrias e a produção de combustíveis fósseis. Outra importante aplicação de CCS é a captura de CO2 a partir de algumas rotas. A principal não é a moda do momento do H2 Verde e sim do Azul que se dá a partir da produção da reforma a vapor do gás natural.
Há seis pontos estratégicos indicados para o avanço de CCS no Brasil, a entidade aponta a necessidade de aprovar a regulação para o armazenamento de CO2, estabelecer um mercado de carbono que inclua créditos de carbono de projetos relacionados a esta atividade, mapear oportunidades para o armazenamento de CO2, criar linhas de financiamento. E ainda, divulgar informações sobre CCS e seu papel para a mitigação das mudanças climáticas Incentivar a pesquisa & desenvolvimento tecnológico.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, 159 novos projetos foram anunciados, distribuídos em 56 projetos de captura, 34 de armazenamento, 14 de transporte e armazenamento, 18 projetos só de transporte, 33 na cadeia completa. Contudo, atualmente, em operação há 47 projetos envolvendo pelo menos uma das frentes de atuação que somados têm uma capacidade anunciada que varia de 74 a 82 MtCO2 capturados por ano. Os Estados Unidos respondem por quase metade, com 21 iniciativas.