As vantagens que o Brasil possui no Hidrogênio Verde, como abundância de recursos naturais e renováveis, serão fundamentais para o fechamento de contratos e parcerias, mas a instauração de incentivos e a procura pelos melhores mercados também deverão aparecer para o incremento do mercado. A nova tecnologia não é mais barata que as atuais poluentes, o que justifica os incentivos, segundo os participantes do primeiro episódio do Warm Up Brazil Windpower 2023 realizado nesta quarta-feira, 24 de maio e que teve como tema “Os caminhos para o Brasil desenvolver a economia do hidrogênio verde”.

De acordo com o pesquisador do Lactec, Patrício Rodolfo, a questão econômica é forte e sem a ajuda dos países desenvolvidos para incentivos, tudo será mais difícil. “[O H2 V] Já está decidido, a questão é saber o quanto vai pesar no bolso não investir em energias renováveis e não desenvolver um mercado verde”, comenta. Carlos Tsubake, Diretor Comercial da Enseada, vê o interesse de muitos compradores contratuais do energético, mas pede políticas públicas e regulamentação para dar segurança jurídica às empresas e países que querem investir. “Sozinho o Brasil não vai conseguir desenvolver. Os offtakers existem, a Alemanha é um país que está ávido para consumir o H2V e a amônia verde”, aponta.

Para Marcelo Natal, diretor comercial da Unigel, há desafios econômicos que ainda devem ser superados. Usar uma energia limpa a preços competitivos é um deles. “Falar de uma energia abaixo de US$ 20 é um driver para que o projeto possa acontecer”, comenta. Ele também destaca que a eficiência da eletrólise deve ser aprimorada, já que o índice hoje de 63% é considerado baixo. Tecnologias com eficiência maior já estão sendo adotadas.

Sobre os incentivos, Natal lembrou dos que estão sendo adotados por países como Alemanha e Estados Unidos. Para o diretor da Unigel, o êxito dos produtos verdes vai passar pela taxação de emissões e a descarbonização do mundo. A Europa estaria bem à frente do resto do mundo nesse campo, com a criação de uma bolsa de valores de emissões. A União Europeia também pretende taxar as emissões da atividade marítima, o que favorece a amônia verde.

Com início de operações previsto para o fim do ano do ano, o projeto de produção de H2V da Unigel na Bahia tem investimentos de R$ US$ 120 milhões. A empresa está à procura de investidores para completar as duas outras fases do projeto, que demandarão mais US$ 1,3 bilhão em recursos. A produção chegará a 100 kt/ ano de H2V ou 600 kt/ ano de amônia verde.

O projeto da Unigel visa a exportação, no caso à Europa. O armazenamento é difícil e a maneira mais conveniente é converter em um carrier, transformando-o em amônia, metanol, tolueno ou algum químico aromático com alta densidade energética por volume transportado. A amônia aparece como o ideal para transportar o energético.

O executivo acredita que haverá uma busca para encontrar mercados que paguem prêmios sobre produtos verdes em detrimento aos convencionais. Segundo Natal, da Unigel, o Brasil está atrás da Europa. “Nos primeiros anos de fornecimento do H2V, o mercado que vai pagar os melhores prêmios serão os países da União Europeia”. avisa.

O pesquisador do Lactec destacou que quando se traz uma nova tecnologia a dependência tecnológica aparece, pela necessidade de suprir peças de reposição e assistência técnica. Para ele, é preciso desenvolver os parceiros locais para sustentar a introdução dessa tecnologia, caso contrário ela não se manterá. “Se cada vez que quebrar uma peça tiver que mandar para a Europa ou EUA para consertar, não vai funcionar” avisa.

Segundo ele, essa nova onda do H2V – a primeira teria sido iniciado no começo o século – faz parte de algo maior, a transição energética, que eliminaria os combustíveis fósseis. Para Rodolfo, o recurso humano será outro ponto de atenção, assim como o suporte à indústria, institutos de pesquisa e universidades, que darão apoio ao processo.

A próxima edição do BWP Warm Up acontece no dia 27 de junho, com o episódio ‘Expansão Renovável: A Hora e a Vez do Eólico Offshore’. No dia 25 de julho, o terceiro episódio terá como tema ‘Eólico Onshore: Caminhos para Ampliar o Potencial de Geração’.