Um estudo da Coalização Energia Limpa aponta que o Brasil poderá sentir de forma mais intensa os efeitos da crise climática. O aumento médio na maioria das regiões do país é calculado em pelo menos 4 graus Celsius na temperatura média e isso poderá trazer grandes impactos no setor elétrico brasileiro dado a renovabilidade da matriz elétrica nacional.

Uma das conclusões do estudo “Vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro frente à crise global e propostas de adaptação” é que para o Brasil, as projeções indicam que as tendências de aumento de temperatura observadas no país devem continuar ao longo do século 21 a uma taxa superior à média global.

E essa vulnerabilidade deve-se ao fato de que o país conta com quase dois terços de seu matriz baseada na hidroeletricidade. São quase 10% de toda a produção mundial dessa fonte. O que deixa o sistema fortemente dependente de variações climáticas, como as chuvas essenciais para as afluências aos reservatórios dessas usinas. Por isso, com a mudança do comportamento das chuvas devido às mudanças climáticas, esta geração está cada vez mais ameaçada.

A publicação, lançada na última sexta-feira, 26 de maio, lembra que essa variabilidade aconteceu em um passado recente. Saímos da maior crise hídrica da história nos anos 2020 e 2021 para um período bastante favorável de 2021 a 2022 e que se reflete nos dias atuais. Mas, alerta que o chamado período úmido vem diminuindo de duração.

“Ainda que exista um esforço global para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global, ele é insuficiente diante da magnitude dos impactos decorrentes desse fenômeno”, aponta o estudo. E mais, segundo um dos autores, o Dr. Lincoln Muniz Alves, já se observa que alcançamos uma elevação média da temperatura do planeta em 1,1 grau Celsius e que se as ações não forem aceleradas não será possível limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, patamar este acertado no Acordo de Paris de 2012.

A publicação da entidade, que é formada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto ClimaInfo, Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Internacional Arayara e Instituto Pólis, aponta os locais que mais devem ser impactados. É projetada uma redução das vazões das usinas localizadas nas regiões Norte e
Nordeste. Para as usinas no Sul e em parte do Sudeste, a tendência é de aumento das vazões. Para a bacia do Paraná, existe uma incerteza devido à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), onde os modelos climáticos divergem quanto ao aumento ou à diminuição da precipitação.

Entre as recomendações a principal é a de que o poder público deverá focar na resiliência ao clima, mas sem ficar mais sujo. Uma crítica direta à contratação de termelétricas movidas a gás natural do PCS ou do leilão de capacidade. “O que não nos parece uma boa opção mesmo para lidar com a intermitência das usinas renováveis. A diminuição máxima possível das emissões é um imperativo e deve ser uma diretriz norteadora de todos os segmentos da economia”.

Entre as formas de alcançar essa resiliência cita a adoção de uma nova forma de planejar, operar e governar o sistema elétrico. Para a Coalizão, a solução deve ser multifacetada, o que exigirá maior diversificação da matriz para se desenvolver um sistema que possa suportar essas mudanças.

Em decorrência da redução de vazões, logo de início a entidade desaconselha a implantação de UHEs a fio d’água no Norte, como é o caso da UHE Tapajós. A solar deverá ser predominante no Nordeste, concomitante com a eólica, a GD combinada com baterias em residências devem auxiliar no enfrentamento à mudança do clima, ao mesmo tempo em que se implanta projetos de UHEs reversíveis, armazenamento em baterias e amplia-se o uso do hidrogênio verde.

O estudo está disponível para download na página do Instituto Climainfo que pode ser acessado aqui.