Falar de transição energética é saber da necessidade de se adequar às diversas fontes de energia disponíveis. No entanto, é preciso falar também de investimentos. As fontes renováveis intermitentes precisam contar com outras fontes que sirvam de complemento para suprir sua falta de produção momentânea. Algumas opções que vem ganhando destaque nessa discussão é o gás natural, que no Brasil vem crescendo gradativamente, e o hidrogênio verde, que chega como uma promessa para transição.
Nesse processo da transição energética, novas tecnologias são fundamentais. Algumas empresas já iniciaram seus investimentos através das políticas ESG para diminuir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Durante o evento ECOA PUC-Rio: Transição Energética, que aconteceu nesta terça-feira, 30 de maio, e vai até o dia 01 de junho, no Rio de Janeiro, Rodrigo Lauria, diretor da Vale, ressaltou que transição é uma questão de processo e não somente de fonte. É preciso monetizar o processo de conversão de uma fonte fóssil para não fóssil e que o setor privado precisa se organizar para participar desse investimento.
O Brasil se destaca como um dos países com mais fontes renováveis, e por esse motivo, tem vocação natural para um histórico de investimentos de empresas estrangeiras nesse mercado. O crescente potencial como produtor de bionergia, apesar de atualmente o Brasil utilizar somente 3% de sua produção de biogás, faz com que o potencial de investimentos alcance a marca de US$ 2,4 trilhões por ano até 2050. No entanto, segundo Daniel Leppert, SVP & Head of Research Latin America da Rystad Energy, vale destacar que esses investimentos não podem ser feitos somente em um único tipo de fonte.
O gás natural ainda causa polêmicas por dividir opiniões sobre ser ou não um fonte limpa. O Hidrogênio Verde é visto como algo nascente, em projetos pilotos, e requer maiores respostas de como vai funcionar na cadeia energética. Para Alexandre Szklo, professor da COPPE/UFRJ, o ideal é que existisse um combustível ou fonte que sua geração fosse zero de emissão, mas isso não é real, mas é preciso buscar algo que se aproxime. “O gás natural gera calor e trabalho mecânico, então ele se aproxima disso. Temos que trabalhar com a realidade local, mas minimizando os impactos”, destacou.
Guilherme Syrkis, Diretor Executivo do Centro Brasil no Clima, destacou que sua crítica em relação ao gás é o lobby que tem sido feito para colocar ele como base, inserindo em leilões e com isso podendo deslocar as energias renováveis. “O gás natural pode ganhar mercado competindo com as outras fontes, como solar, eólica, PCH, mas criar uma reserva de mercado para algo, que no meu ponto de vista, não é necessário, se torna preocupante. O gás é sim importante na transição, mas ele tem um papel importante na indústria e não no setor elétrico”, ressaltou.
Em um resumo do cenário global de energia para 2023 o que se espera é que o consumo global de energia cresça apenas 1,3% em meio a uma economia de desaceleração. Apesar das metas de descarbonização, o consumo de carvão deve crescer para compensar as lacunas no suprimento do gás. E por fim, eventos climáticos mais extremos forçarão muitos países a recorrer aos combustíveis fósseis, atrasando a transição energética.