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A chegada iminente do El Niño este ano depois de três anos de La Niña já chegou ao radar da agência de classificação de risco Moody’s. A empresa publicou um relatório no qual afirma, em linhas gerais, que governos e as empresas dos setores corporativo e de infraestrutura da América Latina têm menos flexibilidade financeira para lidar com um evento climático do que tinham em 2016.
De acordo com a agência, depois de anos de baixo crescimento, acúmulo de dívida, custos de juros mais elevados e riscos políticos crescentes deixaram os governos, empresas de recursos naturais e de infraestrutura com menos força financeira para fazer face a potenciais danos físicos e perturbações operacionais.
Apesar do cenário, aponta a Moody’s, a maioria dos países e setores da América Latina resistirá ao impacto climático sem sofrer grandes pressões de crédito, graças, em parte, aos esforços para reforçar a resistência física, e alguns até se beneficiarão do fenômeno.
O El Niño apresenta dois riscos específicos para os governos, aponta a empresa. O primeiro a ser citado é a procura de despesas de estímulo e a reconstrução de infraestrutura. O segundo é o aumento dos custos de empréstimos se os preços mais elevados dos alimentos atrasarem ou abrandarem a flexibilização das políticas monetárias.
Em geral, os impactos não estão restritos à energia elétrica. A Moody’s alerta para o risco de impactos nos mercados agrícolas e de mineração. “As quebras de safra no Brasil podem aumentar os preços dos alimentos, enquanto chuvas mais fortes na Argentina têm o potencial de aumentar a produção. As perturbações na exploração mineira de cobre e zinco no Peru e no Chile ou de minério de ferro no Brasil, devido ao aumento da precipitação, restringiriam a oferta e aumentariam os preços destes metais de base a nível mundial”, sinalizou.
Impacto no setor elétrico
Na análise da agência de classificação de risco, o fenômeno traz implicações de crédito mistas para a produção de energia hidroelétrica e os preços da eletricidade. “Os preços da energia serão menos previsíveis nas regiões que dependem essencialmente das energias renováveis”, alerta.
Como já citado pela Climatempo no CanalEnergia Live, o El Niño tem como característica principal aumentar as chuvas no Sul do país e reduzir no Norte. Nesse sentido, a Moody’s lembra que o ONS projeta que as chuvas abundantes encheram substancialmente os reservatórios, o que tem deixado o custo marginal de operação zerado por meses seguidos e esse deverá ser o patamar para todo o segundo semestre de 2023, bem como despacho limitado de usinas termelétricas.
Além disso, a geração eólica no terceiro trimestre compensa um período seco para geração hidrelétrica no sudeste do Brasil, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto o céu claro favorece a geração solar. O ONS prevê que tais condições continuarão.
Assim, as chuvas acima da média no sul do Brasil podem estar associadas a danos à infraestrutura nessa região. Enquanto preços mais baixos de energia prejudicarão produtores brasileiros sem contratos de curto prazo, colocando riscos de crédito para empresas como a Eletrobras, maior produtor de energia do Brasil. Por outro lado, geradores de energia com contratos em vigor – incluindo Cemig, que está totalmente contratada até 2025 – não sofrerão tanto com a situação.
A Dcide, destacou a agência de classificação de risco, calculou em julho de 2023 um preço de referência de R$ 88/MWh (US$ 19) para energia convencional no período de 2024-27 – uma queda de 47% em relação ao Índice Convencional de Longo Prazo do ano anterior para os próximos quatro anos.