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O “evento zero” que iniciou o processo de desligamento em cascata no Sistema Interligado Nacional, atingindo 25 dos 26 estados e o Distrito Federal, aconteceu na linha de transmissão Quixadá-Fortaleza, de propriedade da Chesf. Considerado de pequena magnitude e sem potencial para, isoladamente, causar o colapso do sistema como um todo, ele foi provocado por um erro de programação já admitido pela subsidiária da Eletrobras, em comunicado ao Operador Nacional do Sistema Elétrico.
“O sistema não se protegeu como deveria e ocasionou uma série de outras falhas do sistema que a partir daí serão apuradas pelo ONS”, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista nesta quarta-feira,16 de agosto. O segundo evento, que tinha surgido como hipótese ontem, ainda não identificado pelo ONS, mas é possível que ele tenha se somado a outros acontecimentos subsequentes que agora vão ser detalhados pelo operador.
Silveira convocou uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Ele reuniu durante todo o dia no MME técnicos do ministério e representantes do ONS e da Agência Nacional de Energia Elétrica para analisar a situação.
O incidente que provocou uma interrupção de seis horas no fornecimento de energia elétrica em quase todo o país na última terça-feira, 15 de agosto, foi iniciado por volta de 8h30, provocando a interrupção de quase 20 mil MW de carga nas cinco regiões do país. O único estado não afetado foi Roraima, que ainda opera isolado do restante do Brasil.
“No primeiro momento, é importante destacar, nós ficamos completamente focados em restabelecer o Sistema Interligado Nacional para que todos os usuários de energia pudessem ter seus serviços recuperados. No segundo momento, nós estamos fazendo o que é nosso compromisso, que é a transparência e clareza com a população, para que ela tenha ciência completa, total e irrestrita”, disse o ministro.
Silveira afirmou que, mais do que nunca, considera necessária a participação ativa da Polícia Federal no caso, já que o operador do sistema não teve como apontar um falha técnica que pudesse causar um blecaute com a dimensão do episódio de terça. A abertura de inquérito policial para apurar as causas do incidente, incluindo uma eventual sabotagem, foi determinada hoje pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, a partir de um pedido feito por Silveira.
O diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, esteve no MME, e, segundo o ministro, a corporação já está mobilizada para iniciar a apuração do caso.
O ministro, que havia criticado a Eletrobras no dia anterior, disse que Chesf admitiu ao ONS que houve uma falha sistêmica. Mas afirmou em seguida que não se pode ainda dizer se foi humana, ou se foi uma falha do sistema, mas o fato é que esse problema, em si, não seria capaz de causar o evento, e nenhuma hipótese deve ser descartada.
Silveira disse que pediu “todo vigor” à PF e a celeridade necessária à Aneel e ao ONS. A depender do que for apurado, a Chesf pode sofrer penalidades pela mau funcionamento no sistema de proteção da linha que iniciou o processo de desligamento. O ministro explicou genericamente que podem ser aplicadas sanções administrativas ou de ordem criminal, mas isso depende tanto dos desdobramentos da apuração do ONS quanto do inquérito policial.
Pelo procedimento padrão, o operador terá até 45 dias úteis para apresentar relatório com as conclusões sobre as causas do desligamento. O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, disse que o propósito hoje era identificar o evento inicial, a partir do qual a propagação se originou, o que foi feito por meio de um trabalho realizado durante a noite não só no ONS, como pela transmissoras que operam na região.
A própria Chesf chegou a conclusão que houve abertura da linha Quixadá-Fortaleza, após o não acionamento de uma proteção que estaria programada. “Esse evento, a abertura de uma linha, não é um evento raro, é um evento, digamos assim, até corriqueiro”, disse.
Segundo o executivo, a linha estava energizada, seguindo um parâmetro de proteção para evitar alguma sobrecarga, e deveria ser desligada em um determinado momento, mas acabou abrindo indevidamente fora do programado. “Isso ocasionou uma sequência, uma onda, como se fosse uma coluna de peças de dominó, muito grande. Então, não há como falar se são dois, são três, foram N eventos que aconteceram na região e que foram se propagando. Várias linhas na região Nordeste.”
O incidente que desconectou a fronteira elétrica da região Nordeste, Norte e do Sudeste aconteceu em 600 milissegundos, quando todas as linhas que fazem parte do SIN apresentaram essa situação. Ciocchi disse que o que vai ser enfrentado no RAP (Relatório de Avaliação de Perturbação) é o que efetivamente aconteceu nesses 600 milissegundos, a partir de uma série de informações de vários agentes, de várias fontes, para que, com uma análise refinada, se consiga identificar a sequência lógica dos eventos.
“Todas as medidas de segurança de todas as linhas de transmissão são responsabilidade dos operadores. Então, obviamente isso aí era responsabilidade da Chesf, vamos dizer, responsabilidade porque está dentro do perímetro, porque está dentro de onde a chesf opera e tem essa concessão.”
A hipótese de um segundo evento na região Norte foi descartada pelo diretor do ONS, que também negou qualquer associação do episódio com a operação de usinas eólicas.