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Participantes de debate promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica nesta quinta-feira, 22 de fevereiro, alertaram para a necessidade de articulação entre os órgãos do setor, concessionárias e estados e municípios, no enfrentamento dos problemas provocados por eventos climáticos extremos nas redes de energia. A questão da governança e da participação dos chamados entes federados foi levantada durante um seminário sobre resiliência de redes diante de fenômenos climáticos severos.

O setor contabiliza pelo menos cinco eventos de grande magnitude desde junho de 2023 nas regiões Sul e Sudeste do país. Foram registrados no período fenômenos com intensidade acima da média, marcados por fortes chuvas com alagamentos, vendavais e até um ciclone extratropical, que atingiram redes de distribuição em áreas populosas e deixaram milhões de consumidores no escuro.

O maior deles aconteceu em novembro na região metropolitana de São Paulo, quando a queda de árvores sobre a rede, provocada por um vendaval, interrompeu o fornecimento de energia para 4 milhões de unidades consumidoras.

Distribuidoras do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro também tiveram suas redes afetadas pelas fortes chuvas em junho, julho, novembro de 2023 e janeiro de 2024. No Rio e em São Paulo, chuvas e rajadas de vento chegaram de mais de 90 km por hora no inicio desse ano, resultando em um apagão que afetou 300 mil unidades consumidoras.

“Todos esses registros mostram que nós temos um problema”, afirmou o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa. Ele pediu o apoio de prefeituras e governos estaduais, que também são responsáveis por atuar em situações como essa. Feitosa argumentou que distribuidoras e transmissoras não tem capacidade de responder sozinhas  aos impactos de fenômenos climáticos extremos.

“Há uma coisa interessante em toda essa discussão: os serviços de transmissão e de distribuição são concessões federais, mas o serviço é prestado nos munícipios e nos estados. Então, é indissociável a participação e a responsabilidade dos entes federados na resolução desses problemas. Espero e estou contando com o apoio dos governo estaduais e das prefeituras no enfrentamento desse grande desafio.”

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, Marcos Madureira, disse que as empresas tem agregado novas práticas e maneiras de operar suas redes, mas é preciso que elas se organizem para realizar um trabalho conjunto com a agência reguladora, o Ministério de Minas e Energia e os órgãos estaduais e municipais.

O presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata, cobrou que cada um dos atores envolvidos, e não apenas as concessionárias, faça sua parte para mitigação dos impactos das ocorrências de grande gravidade. Essa atuação deve ser feita, no entanto, de forma integrada, porque ninguém vai conseguir resolver o problema sozinho. “É preciso que haja uma intensificação do relacionamento das distribuidoras com a responsabilidade das administrações, principalmente as administrações municipais”, disse Barata.

O diretor de Operações do Operador Nacional do Sistema, Christiano Vieira da Silva, destacou que o ONS, na função de “orquestrador da operação”, precisa estar muito próximo das transmissoras, das distribuidoras para cumprir essa missão.

O grande desafio, na visão do operador, é a intensificação dos grandes eventos climáticos, que deixaram de ser pontuais, como há 20 anos. Eles exigem flexibilidade para, a depender da condição do momento, o ONS ter recursos para continuar a atender a carga com segurança, nas ocorrências em que há interrupção no suprimento.

Na redes de distribuição, hoje já há necessidade de especificações para que os postes aguentem ventos acima de 100 km por hora. “É mais ferro, mais cimento e mais custo para o consumidor”, disse Feitosa.

No caso das instalações da Rede Básica, que tem um índice de disponibilidade de praticamente 100%, a continuidade do serviço tem sido afetada fortemente pelas mudanças climáticas, segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Transmissão de Energia Elétrica, Mário Miranda. Há um aumento das ocorrências com quedas de torres de transmissão por conta de ventos intensos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

O segmento de transmissão alterou o dimensionamento dos projetos em relação à velocidade dos ventos e passou de 112km/h para 173 km/h, o que ainda não tem sido suficiente para evitar a quedas das estruturas. Uma transmissora da região Sul teve, em dez anos, 35 ocorrências com 134 torres caídas.

“O desafio é assegurar projetos de linhas com ventos que apresentam-se crescentes”, disse Miranda. Ele conta que as concessionárias tem buscado melhorar a informação das estações anemométricas, mas elas ainda carecem de maior adensamento nas regiões dos traçados das linhas, para que novos projetos assegurem a resposta mitigadora mais adequada às contingencias.

“As transmissoras tem se movimentado no sentido de implantar estruturas de logísticas. É isso em que as transmissoras estão se transformando: em empresas de tecnologia de logística para atendimento a essa mobilização.”

Em sua avaliação, para garantir a sustentabilidade do segmento é preciso reconhecer o custo desses casos fortuitos, que são “previsíveis, mas inevitáveis.” “Temos que levar em consideração que a rede básica existente são 69 mil km de linhas de transmissão instaladas no Brasil, ainda sob a égide de pressão de vento de 112 km/h”, alertou.