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Um dos elementos do processo de financiamento de Mendubim, um complexo de energia solar de 531 MW que será inaugurado no próximo dia 9 de abril, em Assu, no Rio Grande do Norte, é um contrato de compra e venda de energia (PPA) de autoprodução, lastreado em dólar, por vinte anos com a Alunorte.
A composição acionária do projeto contava, inicialmente, com 3 sócios – Scatec, Hydro e Equinor, os quais teriam partes iguais no empreendimento. Mas desde o início de março, com o PPA para Alunorte, a composição se divide em 30% entre os sócios Scatec, Equinor e Hydro Rein e 10% com Alunorte.
Segundo o country manager da Scatec no Brasil, Aleksander Skaare, para financiar o início do projeto, em novembro de 2022, foi contratado um empréstimo de US$ 243 milhões junto ao BID Invest (um dos braços do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID), ao Banco Santander e ao BNP Paribas. O valor foi fundamental para dar início ao projeto. O restante do investimento (US$ 187 milhões) foi desembolsado pelos sócios do empreendimento, incluindo, além da Scatec, seus dois parceiros, também de origem norueguesa, Hydro Rein e Equinor.
Para a vice-presidente Latam de novos negócios da Scatec, Deborah Canongia, a Mendubim já possuía boa parte de sua energia vendida em um contrato de longo prazo, o que possibilitou o seu financiamento. O contrato abrange um acordo de compra de energia (PPA) por 20 anos com a Alunorte e previu a entrada dessa grande fabricante de alumina, pertencente ao grupo Hydro, como parte investidora (10%) a partir da entrada em operação comercial do projeto, que ocorreu em março de 2024, possibilitando o enquadramento da Alunorte na categoria de autoprodutor de energia. “O acordo foi inovador, pois previa o financiamento em dólares americanos, algo até, então, inédito considerando uma estrutura de autoprodução. Foi também o financiamento em dólar mais longo já realizado para projetos de renováveis no Brasil”, disse a executiva em evento realizado nesta quarta-feira, 27 de março, em São Paulo.
A iniciativa se antecipou à vigência da nova legislação – que regulou esse instrumento de compra e venda de energia em dólares no país – aprovada em 2022, mas que só entrou em vigor em janeiro de 2023. Segundo Deborah, o PPA firmado com a Alunorte cobre aproximadamente 60% da produção prevista de Mendubim. A capacidade restante da usina será comercializada no mercado livre de energia brasileiro. Segundo ela, esse mix, que reúne o PPA e a comercialização para o mercado livre, permitirá ao empreendimento um retorno financeiro seguro e atraente.
De acordo com Aleksander Skaare, os PPAs em dólar deverão ser cada vez mais promissores para empresas que tenham grande parte de seus custos e faturamento lastreados na moeda estrangeira, ou que sejam grandes exportadores. “Como energia é um grande componente do custo operacional de muitas indústrias, e como a taxa de juros nos Estados Unidos é geralmente muito mais baixa que a do Brasil, esta é uma opção que tende a crescer no país”, explicou.
O complexo de Mendubim situa-se em Assu (RN), em pleno semiárido nordestino, e é o segundo empreendimento da Scatec no Brasil, compreendendo um investimento total de US$ 430 milhões, ou cerca de R$ 2,1 bilhões. A sua inauguração oficial será em 9 abril.
Já em plena operação, a usina terá capacidade para abastecer o equivalente a mais de 600 mil residências – ou energia suficiente para abastecer capitais do porte de Aracaju. “O Brasil tem imenso potencial de crescimento em energias renováveis. O país já lidera, de longe, as energias renováveis na América Latina, e é um dos principais players internacionais desse mercado. Queremos fazer parte disso”, afirmou Skaare. Para ele, o país não apenas se posiciona bem enquanto produtor, mas pela qualificação de sua mão de obra especializada no setor das energias renováveis.
Detalhes do projeto
Situada no município de Assú (RN), o perímetro total de Mendubim estende-se por 38 quilômetros. O complexo compreende treze usinas, cada qual uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). Sua construção teve início em julho de 2022. As primeiras operações comerciais tiveram início em fevereiro deste ano, pelas Mendubins 11 e 9 e, sequencialmente, as demais foram sendo acionadas até a última data de operação comercial, em março de 2024.
O projeto chegou a contar com até 1.680 trabalhadores no pico da obra, em novembro de 2023. Ao longo de sua construção, Mendubim selecionou e treinou por 2 meses 240 mulheres sem qualquer formação profissional para profissionalização na área de renováveis (120 para montagem de módulos e 120 em áreas outras áreas de interesse). A iniciativa, promovida em parceria com o ITEC – Instituto Tecnológico do Brasil, rendeu a contratação de 170 mulheres na fase de construção da usina. O esforço se somou a outros que permitiram à empresa conquistar, no mínimo, uma participação de 30% de mulheres na sua força de trabalho, inclusive em atividades operacionais.