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Após anunciar um plano de R$ 7 bilhões até 2028 em investimentos para modernização das atuais fábricas e com foco em aumentar a sustentabilidade na cadeia produtiva, a General Motors avança com uma série de medidas para economizar com o item energia em suas unidades. A companhia reduziu em 41% a eletricidade utilizada para produzir cada veículo em suas cinco fábricas no Brasil, desde 2003. Além disso, de janeiro de 2020 a dezembro de 2023, economizou aproximadamente 17.000 MWh de seu consumo.
Em entrevista à Agência CanalEnergia, o diretor de Sustentabilidade da GM na América Latina, Michel Goldflus, ressalta que a montadora vem aplicando recursos e esforços para eletrificação de alguns componentes e na eficiência energética nos processos industriais como pintura, aquecimento das estufas a gás, partindo também da cultura das pessoas que trabalham na empresa. “A ideia é eliminar as torres de resfriamento e caldeiras à vapor, ou colocá-las mais perto do ponto de uso, o que depende de cada fábrica”, comenta.
Entre as ações para eficientização estão a troca de compressores com supervisórios, influindo numa redução de 30% no consumo; instalação de iluminação LED nas fábricas e escritórios; além de inversores de frequência em aparelhos de ar-condicionado, ventiladores, motores e bombas, perfazendo uma economia de 10%. Outro objetivo da fabricante é utilizar menos gás natural em suas operações, com estudos sendo delineados para avaliar a alternativa do biogás oriundo de aterros.
Desde o ano passado, a companhia instituiu o Golden Rules da sustentabilidade, um processo que abrange a engenharia da manufatura e troca em linhas de montagem com novos equipamentos a serem instalados com eficiência igual ou menor que o atual, além de uma validação dos dados. “As novas edificações auxiliares as expansões de fábricas terão isolamento térmico, áreas automatizadas para ligar luminárias, aberturas nas laterais e no teto do prédio para circulação natural do ar, entre outros”, acrescenta Goldflus.
Complexo em São Caetano do Sul incorpora diversas tecnologias de eficiência energética envolvendo a indústria 4.0 (GM)
Na parte de gestão do consumo, o diretor aponta que a inserção de medidores inteligentes está mais avançada em algumas plantas do que outras, mas a ideia é tornar tudo inteligente nos próximos anos. Já uma ação efetiva tem sido o desligamento das áreas em férias coletivas e feriados, com o religamento bem perto do retorno da produção, no chamado Shut Down. Outro trabalho pertinente é buscar possíveis vazamentos de gás, vapor e ar comprimido nas tubulações, empreendendo vedações mais modernas.
“É uma parte cultural de ser mais eficiente nos processos”, reforça o diretor, lembrando que durante o ano são realizados webinars e atividades especiais nas plantas de produção durante três semanas (água, energia e meio ambiente). O intuito é trazer também o conhecimento para a sociedade.
Mercado livre
Há 32 anos colaborando para a GM, Goldflus lidera a área de sustentabilidade das operações na Argentina, Colômbia e Equador, além do Brasil. O segmento envolve toda parte produtiva da montadora, com construção, reforma e manutenção das fábricas, escritórios, além de questões de ordem logística, compliance ambiental, compra e produção energia, água e tratamento de efluentes. A entrada no mercado livre veio em 2003 e atualmente apenas a unidade de Gravataí está fora do ambiente, por conta de ainda não conseguir acesso a rede básica.
O consumo médio anual da companhia na América do Sul, considerando eletricidade e gás, está na casa de algumas centenas de milhares de MWh. Esse montante, cujo valor não foi revelado, é gerenciado pelo Sustainable Workplaces, o qual suporta os times locais de cada operação. Quanto à estratégia de contratação, a gerência conta com o suporte de consultorias especializadas em análise de mercado futuro para embasar as decisões.
“Aproveitamos os preços em 2023 e fizemos contratos ainda mais longos, entre 4 a 5 anos com energia renovável. Já alguns produtos convencionais que estavam ao fim de contrato foi feito o swap com custo competitivo”, informa o executivo. De toda eletricidade adquirida no continente no ano passado, 28% vieram de fontes renováveis com certificados de reconhecimento internacional.
Montadora avalia novas instalações de autoprodução fotovoltaica, além da compra de energia proveniente da fonte em novos contratos (GM)
100% renovável
A GM também anunciou a meta de obter 100% de suas fontes de energia provenientes de recursos renováveis até 2035, sendo que na operação dos EUA será até 2025. Vale frisar aqui que o grupo controlador não considera a fonte hídrica como limpa. Na América do Sul, a companhia tem avançado significativamente nesse sentido. A quantidade de solar e eólica utilizada nas fábricas do Brasil aumentou dez vezes no período entre 2021 e 2023, com previsão de contratações ainda mais significativas no horizonte.
Uma iniciativa importante mencionada por Goldflus é o fato das fábricas em São Caetano do Sul, Mogi das Cruzes e Joinville já contarem com painéis solares, que geram energia para o aquecimento de água, evitando o uso de gás natural. Diariamente, são aquecidos 61.300 litros de água por meio dessa tecnologia, o que evita o consumo aproximado de 100.000 m³ de gás natural e de 855 kg de GLP por ano.
Por sua vez, o consumo de eletricidade em Joinville vem de um sistema de autogeração de 300kWp, composto por 1.280 módulos fotovoltaicos, instalados no telhado da unidade. Os painéis ocupam uma área de 2.115 m², com capacidade anual de geração de 343 MWh. “Estamos sempre avaliando a expansão dos ativos, estudando também a modalidade de autoprodução”, disse o executivo.
100% elétricos?
Com relação a mobilidade elétrica, Goldflus foi questionado sobre a estratégia da montadora de passar dos carros a combustão diretamente para os elétricos puros, enquanto a maioria das empresas e o mercado impôs outra realidade, com a transição acontecendo pelos veículos híbridos. “O futuro da GM é 100% elétrico, mas o caminho no Brasil poderá vir com motor ainda a combustão, etanol e os híbridos. Estamos estudando qual o melhor modelo para migração”, aponta. A fabricante ainda não produz elétricos no Brasil e ainda não possui algum projeto aprovado para modelos híbridos.
Fabricante conseguiu reduzir em 41% seus gastos com energia elétrica na produção de veículos como o Chevrolet Bolt EV (GM)
Pelo terceiro mês seguido, os veículos 100% elétricos (BEV) lideraram as vendas de eletrificados leves no mercado nacional em fevereiro, com 3.639 emplacamentos, ou 34,8% do total neste segmento (10.451), segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Depois aparecem os híbridos de recarga externa (PHEV), com 3.594 unidades vendidas, ou 34,4%, enquanto os híbridos convencionais e sem recarga externa (HEV e MHEV) chegaram a 30,8% (3.218).
A análise é que consolidação dos BEV abre um novo capítulo na história do mercado brasileiro de eletromobilidade. Os veículos 100% elétricos, puxados pelos modelos da BYD e da GWM, já tinham liderado as vendas do segmento em dezembro de 2023 e janeiro de 2024. O avanço da infraestrutura de recarga tem sido um fator crucial para o aumento da participação de mercado, reduzindo as preocupações dos consumidores em relação ao abastecimento. Empresas como Raízen, BYD, Ipiranga, Tupinambá, EZVolt, Vibra e outras têm desempenhado papel significativo na expansão dos pontos públicos de recarga.
Na visão de Michel Goldflus, a normalização na cadeia de suprimento, principalmente dos semicondutores, foi importante. E que a evolução da mobilidade elétrica precisa ser mais estimulada por políticas públicas que incentivem a renovação da frota e novos investimentos no país, envolvendo todos os stakeholders: indústria, fornecedores, setores de mineração e energia, consumidores, governo, entre outros.