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O processo de transição energética em termos globais desacelerou. Essa é uma constatação de uma pesquisa da consultoria Bain & Co que notou a redução de atividade das empresas. A elevação de taxa de juros, escala de custos na cadeia de suprimento e questões geopolíticas são os três principais elementos que levaram a essa conclusão. Após três anos de crescimento constante, o volume de negócios com este foco estagnou enquanto as empresas reajustam suas prioridades. Segundo a consultoria, quando houve a retomada da atividade as elétricas puras terão mais ritmo de investimentos do que as petroleiras que vêm investindo nas duas frentes.
De acordo com António Farinha, sócio e líder da prática de Utilities da Bain na América do Sul, esse fator deve-se pelo fato de que o core business dessas corporações é diferente. As petroleiras precisam dividir seus recursos para realizar aportes em óleo e gás e também em projetos de energia limpa, enquanto as elétricas só realizam esses investimentos nos projetos de renováveis diretamente.
“Os ativos voltados à transição energética estão ficando cada vez mais caros e combinado à situação macroeconômica vimos que o número de negócios foi reduzido como consequência”, destacou ele. “Quando foram feitos a taxas estavam baixas e, com isso, a parte de financiamento foi elevada. São ativos de capital intensivo e de retorno de longo prazo, estão hoje altamente endividados e o caixa tem sido para pagamento da dívida apenas, além disso esperava-se que fossem mais eficientes, mas houve frustração de expectativas”, afirmou o executivo em entrevista à Agência CanalEnergia.
Isso tornou ainda mais difícil para as empresas de petróleo e gás equilibrar o desafio duplo de continuar estimulando o desempenho em seus negócios principais de hidrocarbonetos ao mesmo tempo em que demonstram também serem dignas de confiança como administradoras de capital de energia limpa.
Em 2020, relata a consultoria, 19% do volume total de transações de fusões e aquisições (para transações acima de US$ 1 bilhão) estavam relacionados à transição energética, número que subiu para para 21% em 2021 e 27% em 2022 antes de se estabilizar em 25% nos primeiros nove meses de 2023. De acordo com a consultoria, esse movimento é visto como uma consolidação inicial antes de uma rota contínua de capital em direção à transição energética no final desta década.
Os itens relacionados à desaceleração estão deslocando parte do foco para a segurança energética com base no core business das companhias, quando se olha os dados da petroleiras que investem em transição. Farinha lembra ainda que projetos que não se saíram bem-sucedidos em diversas regiões também tiveram influência nesse comportamento das empresas em geral.
Além disso, os mercados de capitais não têm valorizado investimentos em transição energética. Múltiplos de avaliação para empresas internacionais de petróleo (IOCs) europeias têm sido negociados com descontos em relação aos seus pares norte-americanos. Tanto que, no início deste ano, a Shell e a BP sinalizaram sua intenção de voltar ao petróleo e gás, prolongando a produção. Em contrapartida, as avaliações de mercado para empresas de energia renovável pura caíram, com reduções de até 27% em 2023 até 1º de dezembro.
A consultoria lista cinco estratégias que as petroleiras devem focar seus esforços para equilibrar com sucesso o objetivo de investir nas duas áreas para que possam competir com as ‘puramente elétricas’. Ele cita a definição de um modelo de negócio para a transição energética, ressaltando a questão da escala como um pilar importante nesse processo. Outro é a identificação de pontos de estrangulamento nas cadeias de valor. E ainda, determinar a estrutura de propriedade adequada em toda a cadeia.
“Acreditamos que esse momento é apenas um momento de pausa dos aportes das empresas europeias para que possam digerir os negócios feitos até o momento e encontrar o modelo certo que mais se adeque às suas estratégias já que muitos possuem o compromisso de serem carbono neutro e zerar a diferença de múltiplos entre estas e as suas concorrentes norte-americanas, que focaram mais no seu core business”, comentou Farinha. “Acreditamos também que os investimentos vão continuar e serão retomados em algum tempo”, disse.