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A adoção de veículos elétricos continua crescendo em todo mundo, apesar das diferentes perspectivas no curto prazo e menores taxas de crescimento em relação aos anos anteriores. O novo relatório Long-Term Electric Vehicle Outlook (EVO) da BloombergNEF indica que a rápida queda nos preços das baterias, avanços da tecnologia de última geração e a melhora da economia relativa à mobilidade elétrica em comparação a combustão interna continuam a sustentar o crescimento do segmento no longo prazo.
No entanto, o estudo também aponta que a janela para alcançar as ambições mundiais Net-Zero no setor de transporte é mais estreita do que nunca. Ele apresenta dois cenários atualizados: Cenário de Transição Econômica (ETS, na sigla em inglês), no qual a adoção de VEs é moldada por tendências tecnoeconômicas atuais, sem novas intervenções políticas; e o Cenário Net Zero (NZS, na sigla em inglês), que mostra o alcance de uma frota mundial de zero emissões até 2050.
No primeiro caso, o valor acumulado das vendas de VEs em todos os segmentos pode atingir US$ 9 trilhões até 2030 e US$ 63 trilhões até 2050. Pelo menos US$ 35 bilhões precisam ser investidos em células de bateria e fábricas de componentes até o fim da década, embora isto seja facilmente ultrapassado pelos US$ 155 bilhões em aportes já planejados pelas empresas.
Nos próximos quatro anos, a projeção é de que as vendas de carros de passageiros aumentem em média 21% ao ano no ETS, em relação à média de 61% entre 2020 e 2023. A participação dos elétricos em relação a novas unidades aumentará 33% em 2027, em relação a 17,8% em 2023. No Brasil as vendas devem quintuplicar até 2027 e triplicar na Índia.
Nesse cenário as vendas globais continuam a aumentar, embora o crescimento desacelere nos Estados Unidos e na Europa, em decorrência de mudanças regulatórias e políticas, e do adiamento de metas de algumas montadoras. Nos EUA, a falta de modelos de baixo custo e o nervosismo do mercado pelas próximas eleições presidenciais ajudaram a desacelerar as vendas neste ano. Na Europa, os objetivos de consumo de combustível, que se tornarão mais rigorosas apenas em 2025, aliviaram as montadoras da pressão para aumentar significativamente as vendas.
Vendas mundiais de carros de passageiros no longo prazo por mercado no Cenário de Transição Econômica da BNEF
O levantamento também mostra que os VEs não são mais apenas um fenômeno de países ricos, citando casos como a Tailândia, Índia e o Brasil registrando recordes de vendas à medida que modelos elétricos de baixo custo são lançados visando compradores locais. A China, líder mundial no setor, não fica para trás e deve manter sua liderança, apesar dos primeiros sinais de saturação de alguns segmentos e de uma perspectiva econômica mais rígida.
A análise da BNEF é de que a tecnologia de base da eletrificação continua a melhorar, os preços das baterias seguem caindo e a adoção deixa de ser orientada por políticas públicas para a demanda de consumo dos mercados. As vendas de veículos de passageiros devem exceder 30 milhões em 2027 no cenário ETS e crescer para 73 milhões por ano em 2040, contribuindo em 33% e 73% para as vendas globais nesses anos.
A publicação também constata que a eletrificação está se espalhando rapidamente para todos os setores de transporte rodoviário, desde triciclos até caminhões pesados. E que carros de duas e três rodas continuam a aumentar nas economias emergentes, com as comercializações devendo exceder 90% em todo o mundo até 2040.
Preocupação com Net-Zero 2050
Apesar do progresso, o setor de transporte rodoviário mundial ainda não está no caminho para uma transição Net-Zero na avaliação da BNEF. Enquanto o cenário NZS exige que 100% da frota rodoviária seja eletrificada até 2050, o estudo de base ETS atinge apenas 69% no mesmo ano. Isto mostra que as tendências tecnoeconômicas atuais, por si só, não são suficientes para fazer com que o setor de transporte acompanhe as metas climáticas mundiais, e que um apoio regulatório contínuo ainda é necessário.
Atualmente apenas os veículos de três rodas estariam no caminho certo até 2050, com os comerciais médios e pesados ainda mais fora do rumo. A informação é de que os chamados powertrains elétricos e de células de combustível de hidrogênio representam apenas 18% das vendas globais de caminhões até 2030 e 43% até 2040, o que já representa uma mudança significativa para o setor.
Para que o mundo atinja uma frota de veículos zero emissões até 2050, as vendas de veículos a combustão precisam cessar por volta de 2038, na ponderação do segundo cenário. Para isso, os principais mercados precisam eliminar progressivamente a produção de veículos a combustão já no início da década de 2030. Já Cenário de Transição Econômica, apenas os países nórdicos alcançarão a eliminação total dos veículos a combustão antes de 2038.
E à medida que mais nações implementam estratégias industriais para tirar algum proveito da transição, as metas climáticas correm o risco de ficar ainda mais fora de alcance. Os governos precisarão assim ponderar cuidadosamente as prioridades e evitar políticas que reduzam a concorrência ou o acesso aos VEs a preços acessíveis.
Vendas mundiais anuais de veículos elétricos no Cenário de Transição Econômica da BNEF e no Cenário Net Zero
Outras conclusões
As vendas de veículos de combustão interna atingiram seu pico em 2017, e até 2027 estarão 29% abaixo do pico, segundo o relatório. A análise econômica indica que os VEs são o principal método de descarbonização do transporte rodoviário. Ainda assim, os híbridos podem ter um papel significativo no curto prazo, principalmente em mercados com regras de eficiência de combustível cada vez mais rigorosas. O estudo aponta que a adoção de híbridos representará entre 5% e 45% das vendas até 2030, dependendo do mercado
Mesmo com a volta dos híbridos plug-in (PHEVs, sigla em inglês), seu papel na transição ainda não está claro na visão da BNEF. Apesar da autonomia média estar aumentando rapidamente, chegando a 80km em 2023 e tornando esses veículos mais atraentes, principalmente na China, ainda pairam questões a serem respondidas sobre a frequência com que esses veículos são usados no modo elétrico. Caso os PHEVs substituíam as vendas de VEs a bateria e não utilizem seu potencial elétrico completo, poderão adicionar tanto ao consumo de petróleo como às emissões.
Já os caminhões pesados elétricos irão se tornar economicamente viáveis, na maioria dos casos, até 2030. Em segmentos mais pesados, as unidades a bateria são mais utilizadas em trajetos urbanos. Mas seu desempenho tende a melhorar em rotas de longa distância e por volta de 2030, deve se aproximar dos motores a diesel. Os veículos a célula de combustível permanecem uma opção viável para alguns trajetos e em alguns países, mas suas perspectivas são incertas.
Pensando nos fabricantes de baterias, o excesso de produção é um desafio. A capacidade planejada de íon de lítio até o fim de 2025 é mais de cinco vezes a demanda mundial por baterias (1,5Twh) prevista para o mesmo ano. No Cenário de Transição Econômica, a necessidade anual por baterias de lítio aumenta rapidamente, se aproximando a 5,9 TWh por ano até 2035.
Enquanto isso, os sistemas de fosfato de ferro-lítio (LFP, sigla em inglês) estão assumindo o controle do mercado, particularmente na China, onde os preços das células caíram para US$ 53/kWh até o momento. Neste relatório, a LFP ultrapassará 50% de participação no mercado mundial de veículos elétricos de passageiros nos próximos dois anos. Como resultado, o níquel e o manganês deverão sofrer maior pressão. Devido à mudança para produtos químicos de baixo custo, o consumo de níquel e manganês até 2025 é, respectivamente, 25% e 38% menor em comparação ao relatório anterior.
Outra conclusão do estudo é que uma frota mundial totalmente elétrica pode consumir o dobro da quantidade de eletricidade consumida pelos EUA em 2023. Até 2050, no Cenário Net Zero, serão necessários cerca de 8,313 TWh para alimentar uma frota de veículos totalmente elétricos, o dobro da quantidade consumida no país em 2023. Apesar do grande crescimento na demanda, a recarga inteligente pode ajudar o sistema, à medida que as operadoras de rede implementam preços variáveis e outros mecanismos para incentivar flexibilidade.
Por fim, para atender à crescente demanda por eletricidade da eletromobilidade, o setor de carregamento precisará se expandir rapidamente na próxima década. A projeção é que até 2050 serão necessários entre US$ 1,6 trilhões e US$ 2,5 trilhões em investimentos cumulativos em infraestrutura de recarga, instalação e manutenção, dependendo do cenário.