O Brasil e o mundo não vão conseguir abandonar os combustíveis fósseis nos próximos dez anos, e a transição para uma matriz elétrica descarbonizada terá de ser gradual e pilotada, principalmente, pelos operadores. A avaliação foi feita por Luiz Carlos Ciocchi, ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, em entrevista ao CanalEnergia Live desta quinta-feira, 13 de junho.

No caso brasileiro, o planejamento deve levar em consideração a diversidade de recursos naturais, como água, sol, vento, além de outras fontes, como o gás natural e a energia nuclear. Do ponto de vista da operação do sistema, foi necessária uma adaptação ao crescimento exponencial das novas renováveis nos últimos anos – uma tendência já esperada – e os impactos da variabilidade das fontes eólica e solar.

“Só para você ter uma ideia, hoje não mais, mas até um mês atrás, quando eu estava como diretor-geral, a nossa expectativa era que, este ano, as rampas necessárias quando o sol se põe e sai a energia solar fotovoltaica, [seriam] rampas de 20, 25 giga, ou seja, em três horas você tem que colocar 25 gigawatts no sistema. Para 2028, essa previsão chega a 50 gigawatts. Então, nós já estamos com 25 hoje e vamos para 50 gigawatts,” relatou o executivo.

Veja a entrevista no CanalEnergia Live:

Ciocchi fez um balanço dos últimos quatro anos em que esteve à frente do ONS, destacando a crise hídrica de 2021 como um dos grandes desafios vencidos pelo operador e o aprendizado pessoal, apesar da longa carreira anterior.

O executivo não tem a obrigatoriedade de cumprir quarentena, com o é exigido em outras instituições, e está retomando os contatos com o mercado, para avaliar oportunidades de emprego. Admite que gostaria muito de continuar no setor e está fazendo força para que isso aconteça, até por uma questão de retribuição. “Eu acho que todo esse aprendizado precisa ser transmitido, precisa ser colocado em prática dentro do setor elétrico.”

Ciocchi citou o almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia que dedicou a maior parte da vida à carreira militar, como um exemplo de que gostar do setor é um vício que se adquire. Albuquerque deixou o ministério em 2022, antes do término do governo Jair Bolsonaro,  e agora presta consultoria e é membro ativo de conselhos de administração de empresas do setor.