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O Brasil precisa acelerar o passo para que não fique para trás no desenvolvimento de toda a indústria do hidrogênio verde. Agora com a aprovação do texto base do marco regulatório no Senado, que aconteceu nesta semana – na noite de quarta-feira, 19 de junho, o país deu mais um passo nesse caminho. Esses são pontos importantes para que o setor possa se colocar em grau de igualdade com outros países que estão disputando investimentos bilionários em outros continentes.

Até porque, problemas estruturais e gargalos ainda existem em todos os países no mundo todo, justamente por ser essa uma indústria ainda em formação. É o que relata Ansgar Pinkowski, Fundador da Agência Neue Wege, que se destina a facilitar negócios nesse segmento, durante a 21ª edição do Enase, evento do CanalEnergia, by Informa Markets, realizado esta semana no Rio de Janeiro.

“Quando falamos de uma fase inicial de uma indústria, vemos que precisa da ajuda de governo para fazer com que essa transição ande”, pontuou.

E é isso que o governo da Alemanha tem feito desde 2020 quando começou o processo de colocar nos trilhos o processo de descarbonização com o H2 Global. Inclusive com interesse de diversos players no Brasil que poderia aproveitar e exportar mais essa commodity. Hoje, contabiliza ele, são 57 MoUs assinados de olho no mercado alemão que tem previsão de acontecer apenas em 2027.

Um ponto importante que ele destacou é a necessidade de existir demanda pelo produto, pois ninguém investirá sem ter em vista um consumidor para o produto. Essa primeira demanda virá do governo do país europeu para estimular o mercado até este ganhar tração.

Outro caminho, este vislumbrado pelo Brasil em diversas regiões, como no Piauí, é o de atrair a indústria de transformação para próximo de onde o H2 será produzido. Assim, a perspectiva de exportar produtos verdes com maior valor agregado é interessante e não precisa estar próximo ao porto, caso de fertilizantes, que têm como mercado o interior do Brasil.

“Os primeiros nessa corrida têm a possibilidade de definir regras e espaços de atuação. O Brasil tem a vantagem de ter a energia renovável”, aponta ele.

Por isso, a CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde, Fernanda Delgado, lembra que é necessário o Brasil acelerar o passo. Afinal, avalia que quem estiver mais bem preparado é que atrairá os aportes que são globais e na ordem de bilhões de reais. “É toda uma nova cadeia de produção, complexa e sofisticada que pode vir ao Brasil”, avalia.

Brasil está disputando investimentos com outros países, por isso precisa estruturar seu arcabouço regulatório para o desenvolvimento do H2 verde e aproveitar seus recursos naturais que estão disponíveis.
Fernanda Delgado, da Abihv

Em sua avaliação, o PL que passou no Senado e voltará à Câmara, tem o potencial de destravar esses investimentos por trazer regras mais claras e segurança jurídica para esses investimentos. Mas a executiva lembra que é necessária regulamentação da futura lei tanto na Aneel quanto na ANP para que o mercado seja organizado. Reforça que há gargalos sim de infraestrutura e de equipamentos, mas que essas necessidades para o estabelecimento da indústria será trabalhada nesse momento, o que é natural de ser feito.

Tatsumi Igarashi, Head de Hidrogênio Verde da Neoenergia, disse que a aprovação á um divisor de águas que estabelece regras claras para o desenvolvimento do mercado garantindo mais segurança jurídica e regulatória para a tomada de decisões por parte de investidores. Para o executivo, o desenvolvimento da produção de hidrogênio de baixo carbono vai ajudar no processo de descarbonização de segmentos ainda difíceis de reduzir as emissões. Ele cita os segmentos de fertilizantes nitrogenados, que são importados e na indústria petroquímica.

Demanda e Oferta

Em termos de demanda, Guilherme Abreu, Gerente Geral de Sustentabilidade da  ArcelorMittal Brasil, destaca que a atividade de siderurgia precisará passa por uma revolução para adotar o hidrogênio em sua estrutura, esse uso se daria por meio da redução do minério de ferro. Atualmente, a indústria usa o carbono para essa ação. O setor de siderurgia é responsável por cerca de 9% das emissões totais de gases de efeito estufa, por isso, é apontado como um dos grandes mercados a atuar. Mas há essa dificuldade na descarbonização, investir na mudança das plantas em nível global.

Por essa razão, diz que o setor de produção de aço é sim um potencial grande consumidor de hidrogênio verde, mas isso é no futuro. “Antes disso, precisamos desenvolver a forma de consumir esse hidrogênio. Uma coisa é certa, produzir aço hoje é diferente de como produziremos aço em 2050”, sentenciou.

Ele disse que a empresa vem investindo nessas novas formas, tanto que há um projeto de larga escala em desenvolvimento para produzir aço com hidrogênio, mas isso em 2045, para quando é a estimativa de dominar o processo. “A produção do H2 tem a tendência de crescer muito e não tenho dúvidas de que seremos líder nesse processo, temos geografia, energia e gente capacitada, mas precisamos de um hidrogênio a US$ 2 por kg para aplicar na siderurgia”, apontou.

Aparentemente a produção começará de forma mais tímida agora e ganhará força no futuro. A estimativa é de Gustavo Rodrigues Silva, COO, da Qair Brasil. A empresa calcula que um projeto de 280 MW no Ceará ficará para a segunda metade desta década e os ativos maiores na década de 30 para frente.

Em relação à atuação da Neoenergia, Tatsumi Igarashi informou que empresa conta com o apoio da controladora espanhola Iberdrola, que possui plantas de hidrogênio verde em operação na Espanha.

Atualmente, a Neoenergia conta com cinco acordos de cooperação com governos e empresas para projetos de hidrogênio verde no Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Também está em fase de projeto de pesquisa e desenvolvimento da empresa, com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para implementação da primeira planta de hidrogênio verde do Brasil.