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A fabricante de aerogeradores Vestas anunciou nesta sexta-feira, 9 de agosto, um pacote de estímulo a cadeia do setor eólico. Além de lançar a turbina V163, foi acertada uma parceria com o banco Santander para redução do custo de capital de fornecedores e a transferência de créditos tributários para clientes que implantarem usinas eólicas no estado. “O pacote é o pontapé inicial para dar a virada que a gente precisa no setor”, explica Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para América Latina.
As ações reforçam o compromisso da empresa com o país, com a cadeia produtiva local e com a manutenção de 25 mil empregos gerados por sua operação local.
De acordo com Ricotta, é importante criar estímulos para que a cadeia fique viva. Segundo ele, quando se traz um novo produto tenta-se reduzir o custo de energia para ele ficar mais competitivo. O executivo destaca que há um alto grau de nacionalização na máquina da Vestas, com mais de 80% de componentes produzidos no Brasil e 110 fornecedores. A Embraer, que fabrica aviões, tem 35%. “A cadeia que desenvolvemos aqui é incrível. Existe uma transferência de tecnologia importante para o Brasil”, comenta.
A turbina, que já foi certificada pelo BNDES para o Finame, será produzida na fábrica de Aquiraz (CE). A Vestas planeja investir R$ 130 milhões entre sua fábrica e na operação de fornecedores de equipamentos de produção e novos moldes de pás, que fornecerão a infraestrutura necessária para levar a turbina ao mercado e apoiar a fabricação local de subcomponentes.
A V163-4.5 MW é construída com base no histórico comprovado da plataforma de 4 MW e na estratégia de tecnologia modular da Vestas. O modelo de turbina é uma etapa de otimização evolutiva baseada no modelo V150, com um tamanho de rotor maior, com uma área de varredura das pás 18% maior, resultando em um fator de capacidade mais alto.
A parceria com o banco espanhol consiste na antecipação de recebíveis com fornecedores que tiverem uma agenda ESG forte. “Quanto mais verde for a empresa, menor é o custo do financiamento”, explica Ricotta. Hoje o custo mensal está em 1,8%, com a parceria será de 0,85%. O montante envolvido é de R$ 1 bilhão, mas pode chegar a R$ 2,5 bilhões. Esse tipo de programa é o primeiro implementado pelo Santander no Brasil.
O objetivo é fomentar a melhoria no desempenho de sustentabilidade da cadeia de suprimentos, além de fortalecer a relação comercial e auxiliar na saúde financeira do ecossistema.
O protocolo de intenções com o governo do Ceará traz a transferência de créditos tributários acumulados entre 2019 e 2021 a terceiros. A operação vale para nova usinas eólicas a serem implantados no estado usando turbinas fabricadas em Aquiraz e pás produzidas no Pecém.
VESTAS ‘GREEN DEAL’
Para Rodrigo Ugarte, Chief Procurement Officer da Vestas Latam, o momento de lançamento do pacote é simbólico, uma vez que o setor eólico tem passado por um momento difícil, com fabricantes hibernando ou deixando o Brasil. Ele, que classificou o pacote de estímulo como “Vestas Green Deal’ lembra que caso o panorama não seja alterado, haverá uma desindustrialização. “Não faz sentido que o país com uma vocação tão natural vire apenas importador de turbinas ou dependente desse bem de capital vindo de fora”, avisa.
Ainda de acordo com Ugarte, no mundo inteiro estão sendo realizadas iniciativas como o norte-americano Inflaction Reduction Act e o europeu Green Deal. Segundo ele, são processos de nearshoring e o país ainda não acordou para esse tipo de movimento. Ele alerta para o crescimento desenfreado da geração distribuída fotovoltaica. Segundo ele, a GD não tem o mesmo impacto econômico social que a fonte eólica. Se o que foi gasto com GD no ano passado fosse investido em eólica, seriam R$ 6 bilhões a mais em impostos.
Os Estados Unidos são vistos como exemplo de país que passou por oscilação na indústria eólica e que conseguiu reverter o quadro. A criação do IRA aumentou a competitividade. Apesar do Brasil não ter os recursos bilionários do programa de incentivos do governo Joe Biden, há mecanismos, como zerar impostos para exportação de H2 verde. “O recurso natural é muito bom, Brasil já é competitivo de largada”, aponta.
Para o CEO da Vestas, criar demanda hoje é o principal desafio do setor eólico brasileiro. Segundo ele, sem encomendas de três a cinco anos não é possível formar uma cadeia de fornecimento. Ele sugere que a abertura de mercado para o consumidor pode ser um fator de aumento de demanda. Leilões de reserva também podem ser uma outra ferramenta para estabilizar a demanda.
A busca por novos mercados para o Brasil, como os de Data Centers, também é destacada por Ricotta. Por ter a perspectiva de o uso da inteligência artificial crescer nesse segmento, o consumo de energia aumentará de forma exponencial, o que coloca o país na rota.
Mesmo com a sobra de energia que é anunciada, a fabricante vê oportunidades de mercado, uma vez que muitos setores industriais ainda não descarbonizaram e os projetos de hidrogênio têm uma boa perspectiva de deslanche.
A fabricante também dialoga com o governo para a redução do custo Brasil. A indústria eólica nacional tem potencial para se tornar exportadora e avançar em mercado vizinhos da América do Sul que iniciam na fonte. Mas entraves fiscais tiram a competitividade em detrimento de produtos asiáticos.
Em julho, a Vestas acertou com o Senai parceria para oferecer capacitação técnica profissional em energia eólica no Brasil. Serão capacitados jovens maiores de 18 anos com ensino médio completo para entrar no mercado de carreiras verde. A primeira turma de alunos será composta por 60 aprendizes de 18 a 24 anos e ao término do curso, os aprendizes poderão atuar em eólicas do Rio Grade do Norte e da Bahia.
* O repórter viajou a convite da Vestas