Olá, esse é um conteúdo exclusivo destinado aos nossos assinantes
Cadastre-se GRATUITAMENTE ou faça seu LOGIN e tenha acesso:
Até 5 conteúdos
fechados por mês
Ficar por dentro dos cursos e
eventos do CanalEnergia
Receber nossas newsletters e
mantenha-se informado
sobre o setor de energia.
Notícias abertas CanalEnergia
ou
Já sou cadastrado,

Trocar o carvão das termelétricas por pequenos reatores nucleares modulares. Esse é o resumo do projeto da Diamante Energia e da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) apresentado ao Ministério de Minas e Energia através da plataforma criada pelo governo para colher contribuições da sociedade ao Plano Clima, que deve guiar a política climática brasileira até 2035.

Segundo o consultor técnico da empresa e autor da proposta, Leonardo Paredes, além de gerar energia com menos emissões de carbono e utilizando boa parte de infraestrutura existente, a iniciativa otimiza o uso do solo e promove, de forma coerente e justa, a transição energética da cadeia carbonífera por meio da manutenção e criação de novos cargos ocupacionais e com ganhos salariais substancialmente maiores.

“Não dá para pegar os projetos muito antigos, como dos anos 1960, mas sim um como Jorge Lacerda em que talvez seria possível fazer a recarga por meio do combustível de Angra dos Reis (RJ), trazendo pelo mar até Imbituba e depois até o empreendimento por rodovia”, disse o executivo durante o XV Seminário Internacional de Energia Nuclear, que acontece até essa quinta-feira, 29 de agosto, no Rio de Janeiro. Além do ano de operação e infraestruturas de transporte como estradas, ferrovias e portos, o levantamento também utilizou critérios como captação de água, subestações de energia e itens ligados aos colaboradores e a operação em geral.

“Jorge Lacerda tem duas subestações grandes, salas de controle, laboratórios para análise ambiental, almoxarifado para todos os tipos de equipamentos, além de sistemas ISO para válvulas, entre outros ganhos”, ilustra Tavares. A Amazul e a Diamante, por exemplo, já assinaram um acordo de intenção para a realização colaborativa de um pré-estudo na cidade de Capivari de Baixo (SC). Jorge Lacerda é formado por quatro usinas a carvão e sete geradores, com potência total de 740 MW e cerca de 350 funcionários diretos.

Projeto apresentado ao MME propõe transição carbonífera para a fonte nuclear com manutenção e criação de mais empregos (Rodney Wormsbecher)

O estudo é abrangente, tendo tomado como base alguns casos avaliados de 237 sítios nucleares norte-americanos e as usinas a carvão brasileiras, como a UTE Figueira, Alunorte, Alumar, Candiota, entre outras, em incursões em campo mas também utilizando o Google Earth. Leonardo Tavares indica que o modelo de substituição traz uma redução de 15% a 30% no Capex e amplia o acesso a recursos pelas famílias das regiões, além de poder gerar novos produtos carboquímicos, como amônia. “É um menor custo de capital e participação do capital privado, já que o governo não vai investir nisso”, comenta.

No entanto, para que tudo saia do papel, ele salienta ser preciso definir a necessidade da autoridade de segurança nuclear no país. Assim como a proposta de lei para escolhas dos sítios nucleares, numa função que hoje compete ao Congresso Nacional, o que não teria cabimento num setor que está propondo a participação de capital privado. Outro ponto é o monopólio e função futura da Eletronuclear na tecnologia. “Teremos uma goldenshare? Não se sabe, mas precisará de uma flexibilização”, sugere o consultor.

Ademais, o representante da Diamante e da Abdan ressaltou a necessidade de seguir capacitando a Nuclep e INB para uma cadeia de suprimento nacional, diferentemente do que aconteceu na Alemanha, que desistiu do seu programa no passado e agora corre contra o prejuízo. “Por isso, precisamos de Angra 3 também, para não acabar com essa cadeia nacional”, complementa Tavares, citando ainda que o MME precisará definir os critérios para uso dos SMRs no grid, em como vender a energia, se via leilão, mercado livre ou outro mecanismo.

Já o diretor de Estudos Econômicos e Energéticos da Empresa de Pesquisa Energética, Giovani Machado, que também participou do XV SIEN, destacou que a EPE está desenvolvendo diferente metodologias de avaliação para escolha de SMRs com foco no planejamento social e em ganhos de economia de aprendizagem e escala para melhorar a economicidade conforme os faseamentos dos projetos e fluxos de caixa corporativos.

“Ano que vem essa é uma agenda fundamental após a definição da extensão da vida útil das centrais nucleares e avanço de Angra 3”, disse o especialista, citando o acesso a financiamento como grande desafio da nova tecnologia e a possibilidade do uso em sistemas isolados, o que constará num novo estudo a ser publicado em breve pela entidade.

Outra discussão que está avançando, segundo ele, são os SMRs para descarbonizar embarcações maiores e a diesel, com projeções interessantes da Deloitte. Machado também salientou um fórum permanente formalizado com a Abdan para colher informações técnicas com parceiros internacionais de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, para discutir e esclarecer dúvidas com a indústria brasileira.

Sobre um dos pontos mais sensíveis ao setor nesse assunto, Giovani afirma que o próximo passo é alterar o poder do congresso nacional em decidir sobre os sítios nucleares no país, sendo preciso limpar o trilho para o trem passar. “Não sei se uma PEC faria sentido, mas talvez uma readequação do artigo da constituição, deixando claro que precisa ter uma lei que define os critérios localização e não que cada planta tenha uma lei”, conclui.

Por sua vez, o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), John Forman, trouxe uma visão mais realista do atual momento, afirmando que o SMR não existe, sendo um conceito da Agência Internacional de Energia, citando a Rússia e Estados Unidos como países mais avançados em termos ainda incipientes de projeto e modelos de licenciamento. “No Brasil, a CNEM não irá se preocupar com isso agora, pois não há demanda, nem a definição ainda da autoridade da segurança nuclear, o que pode levar anos”, pondera.

Ele aponta também a questão do monopólio da Eletronuclear, pontuando que a empresa não possui planejamento para os pequenos reatores nucleares modulares, estando totalmente focada no momento na extensão das atuais usinas e retomada de Angra 3. “As mudanças necessárias, como a não definição dos sítios nucleares pelo Congresso, tem que partir da sociedade civil, de forma organizada”, finaliza.