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Em uma guinada significativa, a Future Carbon anunciou a aquisição de 100% do seu controle pelos seus executivos e pelo investidor e apresentador Luciano Huck, que aumentou sua participação para 2% na startup fundada em 2021. Agora a empresa deixa de ser apenas uma desenvolvedora e comercializadora de projetos de crédito de carbono para atuar como um player financeiro neste e outros mercados envolvendo as tecnologias ligadas a descarbonização.

“A evolução da estratégia não é rebranding, é um reshape, muito mais do que mudar o nome da placa. Evoluímos para nos tornarmos um player mais financeiro, um investidor de clima”, destaca à Agência CanalEnergia o CEO e fundador da agora intitulada Future Climate, Fábio Galindo, ex-chairman da Aegea.

O foco recai em educação, consultoria, desenvolvimento e comercialização de projetos, investimentos e em uma fundação. Essas áreas são complementadas por duas outras frentes: restauração florestal e transição energética, com cada vertical possuindo autonomia de gestão e estratégias próprias, o que garante mais possibilidades de efetividade ao grupo.

A nova estrutura começa com dois fundos para acelerar iniciativas, cada um com R$ 30 milhões em capital próprio nos 12 primeiros meses. “A estratégia é trabalhar primeiro com o nosso dinheiro e risco, para depois convidar parceiros para fazer isso”, comenta o executivo.

O primeiro é voltado para aportes às chamadas climatechs, para soluções de descarbonização envolvendo setores estratégicos da economia, como captura de biometano e carbono, geração de biogás e soluções para áreas florestais, como mapeamento, monitoramento, report e taxonomia de biodiversidade.

Já o segundo será destinado a compra de projetos de carbono de alta integridade e qualidade no modelo Project Finance, onde a companhia financia o projeto desde o começo e faz com que ele cresça com o capital. O foco recai especialmente em ativos de alto impacto social, ligados às salvaguardas socioambientais, tido por Galindo como o coração entre o arcabouço de ferramentas do mercado de carbono 2.0.

Energias renováveis lideram projetos de crédito de carbono da startup que em 2022 colocou no mercado sua plataforma de comercialização (Shutterstock)

“A gente viu que tinha muita demanda de mercado, vimos que os compradores têm um framework próprio, e nós a inteligência de mercado para saber qual é o ativo que tem mais apelo”, conta o CEO, afirmando que para formar um mercado mais sólido no país são precisos os pilares do conhecimento e a ponta final de investimento.

Em linhas gerais, ele resume que a mudança de controle foi exatamente por acreditar na empresa e no Minimum Viable Product (MVP) que acabou dando certo. O modelo de negócio não verticalizado, com uma plataforma baseada em governança, controles, compliance e processos foi concebido em 2022 para ir ao mercado no ano seguinte, tendo uma grande aceitação junto aos três setores estratégicos da economia brasileira: florestas, energia e o agronegócio.

“Foram 36 projetos desenvolvidos em 12 meses com uma visão mais sofisticada do ponto de vista financeiro, trazendo liquidez para os créditos de carbono, visto que um dos problemas no mercado era exatamente de ativos onde as pessoas e os donos efetivamente vissem receita”, ressalta.

Os valores envolvidos na aquisição foram baseados no volume de créditos de carbono que a Future tem sob sua gestão, hoje em torno de 138 milhões a serem entregues em 30 anos. O portfólio é distribuído entre energias renováveis (24) e florestas e agro (12), perante as três maiores Certificadoras globais: Verra/VCS (USA), Gold Standard (SWZ) e GCC (Catar).

Em sua carteira constam clientes como a bp, Casa dos Ventos, Cibiogas, Comerc Energia, CPFL Energia, Engie, Fueling Sustainability, Grupo Boticário e Klabin; além de parceiros como Banco do Brasil, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Nubank, Patria, Vinci Partners, XP. Em 2024, a receita líquida projetada é de R$ 54 milhões, um crescimento superior a 400% em relação a 2023, com uma margem EBITDA de 70%.

Fabio Galindo, que tinha 46% do capital, comprou a participação de um investidor estrangeiro que detinha outros 46%. Com isso, aumentou sua cota para 84%, enquanto outros sete executivos ficaram com 14%. Ainda que o valor da transação não tenha sido revelado, o valor presente líquido (VPL) do estoque de créditos da startup é avaliado em cerca de US$ 120 milhões. “Começamos com apenas um funcionário e agora temos uma equipe de 100 pessoas”, lembra o executivo.

Evoluímos para um player mais financeiro, um investidor de clima. Fábio Galindo, da Future Climate

Crescimento e diferenciais

Esse crescimento impressionante, obtido em apenas três anos de operação, foi impulsionado também pela abertura de novos escritórios em Londres e Abu Dhabi, o que facilitou o acesso a investidores internacionais e atraindo capital internacional para o Brasil. Na visão de Galindo, o mercado está em busca de respostas efetivas diante da emergência climática, com a meta da Future Clima sendo de alcançar uma gigatonelada de emissões evitadas e captura de carbono até 2050.

“Nosso time tem expertise e inteligência de mercado, o que nos faz ter essas respostas e ter bom retorno em múltiplos, do ponto de vista financeiro”, analisa, afirmando que ainda vai levar um tempo para Wall Street e a Faria Lima chegarem ao interior do Pará. “Queremos ocupar esse espaço e acelerar esse processo”, complementa.

O país tem testemunhado grandes movimentações no mercado do clima, em especial nos dois últimos anos. Grandes bancos, como Santander, IBBA e BTG anunciaram investimentos em empresas de carbono. E gestoras como EBCapital, GEF, Vinci Partners e Perfin realizaram captações relevantes na agenda, o que sinaliza que o mercado climático brasileiro deve passar por uma competição acirrada de capital em busca de plataformas.

Além de classificar seu time como transversal, de experiência técnica de mais de 15 anos e entre diferentes perfis, o que traz diferentes abordagens para criar uma empresa diferente mas imbuída de uma estratégia comum, Galindo ressalta o pioneirismo da Future em ter colocado nesse mercado de clima uma plataforma com a possibilidade de uma jornada completa aos clientes, algo que segundo ele só existe em iniciativas isoladas por aqui.

O terceiro diferencial da companhia seria de trazer liquidez o formato de trabalhar com o clima e no aspecto de capital e margem, acelerando um modelo de negócio que atue na dor mais intensa do mercado. E apostando muito em compliance e integridade, ficando longe dos últimos escândalos envolvendo greenwashing.

“A gente tem uma média de preço a 110% nos créditos de carbono, batendo o mercado em relação ao preço de tela”, afirma o executivo, ponderando a escolha por ativos de qualidade do que propriamente escala nesse momento de desenvolvimento do mercado. “Biodiversidade, impacto social e tecnologia, isso tudo reflete em frente ao preço. E esse é o nosso modelo, de custar mais na qualidade do que na escala”, complementa.

Para CEO, Brasil precisa se organizar com celeridade para não perder mercados internacionais de tecnologias da descarbonização (Divulgação USP)

Desafios

Quanto aos desafios que a Future enxerga em relação ao seu negócio no Brasil, Galindo destaca três. O primeiro é a regulação local para trazer mais segurança aos players e uma percepção internacional mais robusta do nosso ecossistema. Atualmente o mercado voluntário atua sob regras internacionais, como o Acordo de Paris, tendo muitos países já aproveitando o aporte internacional para alavancar projetos dentro de casa, que giram a economia de baixo carbono.

O segundo fator é o conhecimento e maturidade do mercado sobre o valor da agenda climática e carbono, além da capacidade de separar o joio do trigo. “As pessoas tendem a achar que crédito de carbono é tudo igual, e tem muita diferença, tem diferença de certificadoras, metodologias, mensuração e liquidez”, pontua.

Por fim, o dirigente vê um gap existente entre o mercado atual, ainda incipiente, e o capital maciço dos grandes fundos e bancos, o chamado capital multilateral. “E que já está dando faísca entre o mercado de clima e carbono e o financeiro”, indica, pontuando que o mais plausível seria preencher a essa lacuna o mais rápido para um ecossistema mais sólido, com ratings e maior clareza nos processos, além de mais consciência e a mentalidade do ambiente financeiro trazendo essa sofisticação para a maior escala.

Para ele, o Brasil tem tudo para atrair muitos recursos nessa linha, dependendo ainda de um movimento certo do governo, de se posicionar na geopolítica da agenda climática global por meio de acordos bilaterais com outros países e permitir que outras empresas comprem os créditos de carbono brasileiros sob a égide das regras globais. “São 68 países que têm cartas de intenções celebradas de maneira bilateral e o Brasil corre o risco de ficar para o final da fila devido a essa oferta de carbono de outros”, atenta.

Mix de soluções

Questionado sobre as principais apostas para o futuro pós regulação, Galindo vê um mix de soluções, com o avanço tecnológico trazendo uma disrupção a esse mercado por meio de plataformas, rastreabilidade, créditos negociados em escala com blockchain, token, entre outros diferenciais. “A gente precisa de todas as tecnologias, tanto daquelas que evitam as emissões, como as que capturam, o que dependerá também muito de cada região”, avalia.

Uma em destaque é a captura e armazenamento de carbono, impactando tanto o Brasil na agenda de florestas, com um altíssimo potencial de restauração, através de setores estratégicos da economia como o agronegócio, ou ainda os biocombustíveis nos transportes. Para o CEO, existe uma nova mentalidade acerca do novo modelo econômico mundial que busca se distanciar do uso irracional e desenfreado dos recursos naturais, sendo o financiamento de atividades “limpas” o que move o capitalismo na busca do seu novo formato, da sua melhor versão.

“Fica claro que vem uma disrupção do capitalismo por ele mesmo, na busca de se reinventar e construir esse novo capitalismo verde, de menores emissões na natureza”, finaliza.