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O conhecido Acordo de Paris está próximo de completar uma década. Desde então o mundo discute como evitar que a temperatura média aumente em mais de 1,5 grau Celsius. Para isso, cada país estabeleceu suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Uma das formas de limitar esse efeito, na maioria das nações, é por meio da geração de energia renovável. Apesar de passado quase 10 anos, essas metas estão atualizadas e podem levar ao objetivo acordado.

Essa é a avaliação do diretor geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) Francesco La Camera, que foi entrevistado pelo CanalEnergia em um espaço na concorrida agenda que o executivo manteve na semana passada em Foz do Iguaçu (PR), onde foi realizada a reunião ministerial do G20. Apesar de ainda estarem atualizadas, ele alerta que os esforços dos próximos anos serão fundamentais.

“Ainda é possível, mas na verdade estamos muito perto do limite”, define La Camera sobre alcançar o objetivo por meio das metas do maior acordo climático já definido pelos países. “Estamos a avançar na direção correta, onde um sistema elétrico será dominado pelas renováveis e complementado por hidrogênio verde. Isso está acontecendo, mas não ocorre na velocidade e na escala necessárias”, complementa.

A bandeira de triplicar a capacidade de geração renovável no mundo até 2030 é uma bandeira que a entidade vem defendendo nos últimos anos.  Mesmo com o mundo tendo batido o recorde de novas adições de capacidade renovável, diz ele, é necessário avançar muito mais para chegar em 2030 com o volume de capacidade sinalizada pela entidade. São necessários 1,5 TW anuais até o final da década. Em 2023, mais de 85% de toda energia nova vieram de fontes renováveis.

“Precisamos nos esforçar muito mais para que alcancemos os objetivos, além de mudar a forma de produzir é necessário mudar a forma de consumir”, aponta La Camera.

O representante afirma que há recursos para que se possa financiar essa expansão globalmente. Acontece que há barreiras que passam da questão financeira. É a física, pois a infraestrutura da maior parte dos países está consolidada para um sistema centralizado de geração. Acontece que o mundo caminha para um sistema descentralizado de produção.  “A infraestrutura atual não está preparada em sua maior parte para essa mudança. Esses sistemas precisam ser flexíveis e equilibrados”, destaca.

Contudo, outras infraestruturas necessárias, na avaliação do diretor geral da Irena, são portos e dutos, uma vez que a perspectiva é de que o H2 Verde ganhe mais protagonismo na transição energética global para poder fazer com que as moléculas efetivamente sejam utilizadas nas atividades a que se destinam. Ele diz que há cerca de US$ 150 trilhões de ativos em todo o mundo e que 4% desse volume vão para investimentos diretos e que por isso há o otimismo de que ainda há tempo para alcançar os objetivos do Acordo de Paris.

Outro caminho que deve ser alterado, na análise da Irena são os currículos das universidades. A questão da mão de obra qualificada também precisa avançar para que o mundo possa triplicar a capacidade de geração de energia limpa. Essa é uma outra barreira que existe no processo ao lado da questão jurídica e politica que devem ser trabalhadas em diversas regiões.

O relatório de criação de empregos que a Irena divulgou recentemente, destaca La Camera, mostra importantes avanços nesse sentido. No ano passado, houve o maior aumento de empregos no setor de energia, com 16,2 milhões de vagas. Esse número representou um salto anual de 18% e segundo a entidade reflete o forte crescimento da geração de energias renováveis.

Contudo, o relatório ainda aponta um quadro global desigual. Perto de dois terços da capacidade solar e eólica foram instaladas somente na China no ano passado. Com isso, claro, o país asiático é quem liderar o ranking de empregos com cerca de 7,4 milhões de vagas, ou 46% do total global. A UE seguiu com 1,8 milhão e o Brasil aparece em terceiro lugar, 1,6 milhão. O país está à frente dos Estados Unidos e da Índia, cada um com perto de 1 milhão de empregos.

O maior impulso, lembra o diretor da Irena, veio do setor solar fotovoltaico com 7,2 milhões de empregos em todo o mundo. Os biocombustíveis líquidos tiveram o segundo maior número de empregos, seguidos pela energia hidrelétrica e eólica. O Brasil liderou nos biocombustíveis, representando um terço dos 2,8 milhões de empregos mundiais neste setor.

“O Brasil se destaca como um dos países que mais tem se destacado, mas é importante lembrar que ainda há muito a ser feito”, pontua o diretor geral. “Em geral, os número são bons, mas deve ser aumentado, porque se você quiser triplicar a capacidade instalada tem que ter mão de obra qualificada”.

Sobre os custos da energia renovável, La Camera disse ter se surpreendido com a queda de custos que está na casa de dois dígitos. E não apenas para a produção de energia eólica offshore ou solar, mas também para armazenamento, o que leva a reduções de custos das fontes renováveis.

Além disso a cadeia de suprimentos está funcionando bem. A Irena defende que haja a descentralização dessa cadeia para que seja mais resiliente e mais justa com os países produtores de minerais, por exemplo, como a África e até mesmo o Brasil. Isso ajuda a gerar mais valor agregado para todos.

Sob a presidência do Brasil no G20 a Irena apresentou um relatório que tratou de analisar os investimentos em mercados emergentes e economias em desenvolvimento. De acordo com a entidade, para impulsionar uma transição justa e inclusiva no Sul Global, os desafios de investimento devem ser abordados por meio de instrumentos de mitigação de riscos e uma forte alavancagem de recursos públicos. O planejamento energético nacional eficaz é um dos principais facilitadores que ajudam a reduzir os riscos e as incertezas gerais, aponta.

Em muitos países em desenvolvimento, continua a Irena, as energias renováveis com boa relação custo-benefício oferecem maior justiça social na forma de empregos e crescimento econômico e ajudam a solucionar os déficits de acesso à eletricidade e às tecnologias limpas de cozimento.

O caso do Brasil, realizado em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mostra como o planejamento energético pode desbloquear investimentos.

Os investimentos globais relacionados à transição ultrapassaram 2 trilhões de dólares pela primeira vez em 2023. Mas os padrões atuais de investimento estão distorcidos, com a maior parte do financiamento indo para as economias avançadas e algumas grandes EMDEs, como China, Índia e Brasil. O resto do mundo recebeu apenas 10% dos investimentos globais em 2023.

Como resultado dessa agenda de trabalho na semana passada, o Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20 (ETWG), presidido pelo ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, aprovou na sexta-feira, 4 de outubro, declaração conjunta que prevê o apoio à implementação de esforços para triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a taxa média global anual de melhorias na eficiência energética globalmente por meio de metas e políticas existentes, além de apoiar de forma semelhante a implementação com respeito a outras tecnologias de emissão zero e baixa emissão, incluindo tecnologias de redução e remoção, de acordo com as circunstâncias nacionais até 2030.

O grupo reconheceu a necessidade de adotar várias abordagens para aumentar a flexibilidade e a estabilidade do sistema, de acordo com as circunstâncias nacionais, incluindo gerenciamento de demanda, retrofit de flexibilidade e expansão e modernização da infraestrutura de rede, backup e capacidades de balanceamento.

Ministros declaram apoio a esforços para triplicar energia renovável até 2030