A descarbonização de setores da indústria, a demanda por hidrogênio renovável e as sinergias com o setor de óleo e gás podem ser rotas para a criação de demandas para as eólicas offshore. Em painel sobre o assunto realizado na última terça-feira, 22 de outubro, no Brazil Windpower, em São Paulo, o professor Mario Gonzales, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, lembrou que o setor siderúrgico é responsável por grande parte das emissões de CO2 globais, o que torna a sua descarbonização necessária.

De acordo com ele, o uso do hidrogênio renovável na produção de aço é factível e a previsão é que a produção de toneladas nos próximos anos cresça. Esse aumento poderia vir com a produção de aço verde, que iria demandar H2R em larga escala, que seria obtido via eletricidade renovável, criando assim uma demanda para as eólicas no mar. “Apenas o setor siderúrgico já é um grande grupo”, explica.

O professor vê um cenário de crise climática em que uma reação é necessária. Para ele, a eólica no mar leva vantagem na comparação com as fontes em terra por conta da escala. Enquanto as usinas eólicas e solares demandam grandes áreas e não somam altas capacidades, as eólicas offshore são projetos pujantes de pelo menos 1 GW. “Isso possibilita produção do H2V em grande escala, aí podendo fornecer para outros mercados”, aponta.

Daniel Faro, da Petrobras, vê grandes sinergias entre a Petrobras e a fonte renovável offshore. Segundo Faro, a maior parte da atividade da petroleira é feita em alto mar. “Tem sinergias, nos sentimos bem em investir nesse ambiente”, comenta.

Ele lembrou que a descarbonização da produção do óleo e gás vem sendo discutida, mas não muito divulgada. Ele conta que de 65% a 70% das emissões de uma FPSO vem da geração de eletricidade. A eletrificação das plataformas pode ganhar força. O uso de aerogeradores próximos a plataformas poderia ser uma rota, mas seria um movimento permeado de complexidades técnicas e ainda seria preciso lidar com a intermitência da fonte.

Outra hipótese seria a conexão de várias plataformas com uma planta renovável. Isso deixaria a planta conectada ao grid e sem intermitência, mas que também seria complexo por conta do cabeamento. “Alimentar a plataforma tem vários desafios tecnológicos, principalmente para as que não foram feitas para tal”, avisa. Cogita-se que as próximas já venham com as devidas adaptações.

Mas apesar da sugestão por demandas para as eólicas offshore, Luís Meca, Gerente Geral de Power Consulting da Hitachi Energy, alertou no painel que assim como a demanda, a transmissão das eólicas offshore não pode ser esquecida. Ele dá como exemplo o hidrogênio, que apesar dos grandes hubs que vem sendo idealizados, possui apenas 3,2 GW de capacidade de escoamento. “Só um projeto de H2V é de 3,2 GW. O gargalo desse escoamento de potência é crítico”, denuncia.

Ainda segundo ele, a experiência no mundo mostra que os primeiros projetos de eólicas no mar exploram a costa em projetos menores com a transmissão sendo feita na média tensão. Com o avanço dos projetos, a distância aumenta, as linhas são feitas de alta tensão e com alteração na corrente. O investimento na conexão também aparece como um fator importante.

“A distância do continente e tipo de transmissão que será usada terão que ser avaliados. O custo da transmissão é representativo, tem que considerar as variáveis”, avisa. O executivo acredita que os hubs de H2 poderão ser um grande atrativo para potencializar a eólica offshore.