A CPFL Energia e a Neoenergia comentaram os diferentes desafios que estão lidando para formação de uma equação financeira, regulatória, ambiental e social que ajude na tomada de decisão envolvendo parques eólicos em fim de vida útil nos próximos anos. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mais de 30 usinas entre 600 aerogeradores oriundos do Proinfa chegarão nessa condição no Brasil até 2030, exigindo que os players do setor elétrico antecipem seus planejamentos.
As opções envolvem a extensão da vida útil dos ativos ou repotenciações, num novo modelo de continuidade operacional, seja vendendo no mercado spot ou ainda, em última instância, pelo descomissionamento total. Nesse último caso com a necessidade de discutir aspectos como das subestações e linhas de transmissão vinculadas, entre outros pontos.
“Os diâmetros e altura dos equipamentos mudaram muito e aumentam desafios, sobretudo para eólica offshore, com os empreendedores necessitando entregar um plano de destinação pós vida útil ao Ibama”, destacou a Analista de Pesquisa Energética da EPE, Verônica S. M. Gomes, durante o último painel da Arena O&M do Brazil Windpower na última terça-feira, 22 de outubro. Ela citou também alternativas para reciclagens terciárias dos equipamentos, com tratamento da mistura de Epóxi e vidro das pás.
O diretor de O&M da CPFL, Francisco Galvão, reconhece que essa discussão está sendo feita tardiamente e que a companhia possui 182 aerogeradores que chegarão ao fim da vida útil em 2030. São equipamentos da fabricante Suzlon, que teve problemas e decidiu fechar suas operações no Brasil em 2017. “O ponto focal é como equalizar e equilibrar a conta com uma realidade futura incerta, tanto regulatória como a preços de mercado”, salienta, apontando estudos para que as turbinas do antigo fabricante sejam mantidas em parte com o complemento de outro, com um capex mais ajustado, O&M reduzido, imprimindo maior eficiência ao processo.
Entre os pontos de preocupação, o executivo ressalta a concorrência desses projetos com os novos complexos de geração, em movimentos que inevitavelmente irão coincidir. Além disso, o mercado de seguros está difícil em sua avaliação, exigindo prêmios altíssimos ou aumento de franquia. “Em dois casos tivemos que nos reinventar e fizemos uma pesquisa nos EUA de máquinas descomissionadas lá que poderiam dar certo aqui, e o segundo numa mudança de modelo”, aponta.
Galvão entende ser preciso que o país busque desenvolver uma cadeia de subfornecedores para a indústria eólica, para estoques de segurança. Assim como em fomentar o surgimento e consolidação de empresas locais de manutenção, como no caso das Gear Box das pás. “Essa cadeia está alocada fora do país e estamos migrando cada vez mais para a importação de componentes”, pondera.
Já no caso da Neoenergia, a ideia é utilizar a expertise do Grupo Iberdrola, que está desenvolvendo a repotenciação de três ativos eólicos na Europa. Os trabalhos envolvendo desde a troca dos cabos de média tensão até a reconfiguração de subestações. “Estamos estudando alguns ativos como o complexo Rio do Fogo, para possibilidade de trocas de equipamentos que não encareçam muito os empreendimentos”, disse o gerente de Implantação de Projetos Renováveis da companhia, William Rodney.
O diretor Técnico da Maron Ambiental, Mario Trindade, destacou em sua fala a moldura regulatória atual do chamado Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC25), que deu uma contribuição significativa para evitar problemas com relação ao fim da vida útil dos aerogeradores, mineração e a indústria pesada. A obrigação consiste na provisão contábil de diferentes acontecimentos, com revisões anuais. “ A engenharia precisa conversar com a área de contabilidade, pois uma torre de concreto não gera receita em sua desmobilização como uma torre de aço”, conclui.