A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) iniciou os trabalhos da comissão formada para estudar a formalização de uma norma técnica para esclarecer, de forma mais fidedigna, a emissão sonora emitida por turbinas eólicas. Segundo o presidente da Sobrac e Gestor do Comitê Brasileiro de Acústica ABNT/CB-196, Krisdany Vinícius Cavalcante, a primeira reunião aconteceu na semana passada, e a próxima tem data marcada para 1º de novembro.

“Vamos potencializar a prevenção de problemas através de mapas de ruídos, gráficos e tabelas de correlação entre a potência elétrica gerada em cada nível de banda sonora, caracterizando as áreas de influência que dependem de diversas características”, comentou o especialista na última quinta-feira, 24 de outubro, no segundo painel do dia da Arena O&M do Brazil Windpower 2024.

O objeto em análise aponta para a possibilidade de adoção da ISE 61400, padrão internacional publicado pela International Electrotechnical Commission (IEC) e que aborda diferentes temas. No caso em questão, envolve a utilização de métodos de medição para a avaliação de barulho em locais perto da máquina, a fim de evitar erros devido à boa propagação, mas longe o suficiente para permitir que o tamanho de fonte seja finita.

Para isso, a ABNT está estudando também outra norma que irá caracterizar o receptor dos ruídos, vide o problema da influência de vento no microfone (como numa respiração) que vem acontecendo nas perícias. Uma alternativa seria a colocação de duas camadas de proteção no microfone para não haver influência nos resultados. “O decibel não é um número único, absoluto, sendo preciso uma análise em espectro”, acrescenta.

Caso Caetés

Na experiência da Echoenergia no parque Caetés (PE) foi identificada a necessidade de diferentes ações para mitigações dos ruídos, já que uma área rural deu lugar a máquinas rotativas que inevitavelmente geram barulho. A conceituação é de que não existe atrito zero entre as peças, além de ruídos aerodinâmicos nas pás. Foi então proporcionado, principalmente, a melhoria do conforto acústico e outras modificações cabíveis para os moradores com residências no entorno do complexo, com projetos individualizados para cada caso.

Entre as alterações constaram obras civis para novos sistemas elétricos, paredes impermeabilizadas, sistema de ventilação natural, fossas para o adequado tratamento de esgoto e a internalização de banheiros. Foi implementado também um projeto para acesso à água para consumo humano, produção de alimentos e inclusão social das famílias. Ao todo, 430 famílias foram beneficiadas pelo acesso à água em 14 comunidades.

“Agora estamos iniciando as ações para nosso parque do Rio Grande do Norte, a partir da elaboração do plano de execução”, informou ao CanalEnergia o diretor de Operações da Echoenergia, Leonardo Machado. O rito passa primeiro pelos estudos de avaliação, contemplando medições de campo, simulações matemáticas abarcando diversas variáveis, diagnóstico social e das particularidades de cada região. “Depois é criado o plano de mitigação junto ao órgão ambiental, comunidades e demais agentes”, complementa.

Machado também reforçou ser preciso um arcabouço mais estruturado para maior segurança jurídica aos investidores, para que as ações que estão sendo feitas para esse convívio sejam harmônicas com as várias instâncias que envolvem um projeto eólico, inclusive ao longo da vida útil dos empreendimentos. “É preciso entender a subjetividade do tema, o parque é vivo e as coisas vão acontecendo, dando abertura para que os problemas venham a ocorrer”, conclui, citando como exemplo o avanço de populações pós implementação das turbinas.