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O custo do transporte e da distribuição no Brasil pode funcionar como um entrave para a importação em larga escala do gás argentino de Vaca Muerta, na avaliação do presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, Paulo Pedrosa. A perspectiva para o setor industrial é de que o produto comece a chegar em pequenos volumes ao país, e, mesmo se dizendo otimista e entusiasmado, o executivo pondera que ainda não viu algo que seja perto dos 20 milhões de metros cúbicos por dia previstos pelo governo.

A grande dificuldade para tornar a importação economicamente viável é o custo final da operação, que ainda não está claro para a indústria. “Ainda quero ver os números, porque se o transporte na Argentina vai custar US$ 2,00, se a Bolívia está dizendo que vai querer US$ 2,oo, se o transporte no Brasil, vindo pelo Gasoduto Brasil- Bolívia, vai custar US$ 2,00, e se a distribuição, por exemplo, em Minas Gerais, é U$ 4, a gente já tem 10 dólares e não chegou ainda à molécula de gás. Então, se esse gás chegar a US$ 8, em Minas Gerais ele vai custar US$ 18. Se ele custar US$ 18, quem é que vai consumir?”, pondera.

O memorando de entendimento para viabilizar a compra do gás dos campos de Vaca Muerta foi assinado na última segunda-feira (18/11) pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o ministro da Economia argentino, Luis Caputo, durante a cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro. O acordo prevê o fornecimento inicial de 2 mi\m³ por dia em 2025, com aumento para 10 milhões entre 2026 e 2028, até alcançar 30 mi\m³ por dia até 2030. O volume final é equivalente a 30% da demanda brasileira de gás natural, e a expectativa é de que o preço do gás fique entre US$7 e US$8.

Falta avaliar o que deve ser demandado de infraestrutura para possibilitar a importação. Uma opção colocada  para uso imediato é a utilização do Gasbol (Gasoduto Brasil-Bolívia).

“Hoje nós temos um agente (Petrobras) que tem 83% do mercado. Então, a essência do modelo não está presente. Se vai vir um gás que tem um potencial de chegar em grande quantidade para competir aqui, isso é bom,” disse Pedrosa, nesta quinta-feira, 21 de novembro.

Para o executivo da Abrace, a verdade é que o programa do gás no Brasil está parado há 12 anos, porque o preço não permite que o produto seja usado para “fabricar coisas”, ampliando, por exemplo, a produção de metanol. “A gente não fabrica mais aspirina”, lembrou o executivo.

Pedrosa cobra maior clareza de objetivos em relação ao que se pretende para o setor de gás, e sugere que a prioridade do governo deveria ser uma política de descarbonização da indústria nacional. Um movimento que faça essa equação fechar para o produto caber, por exemplo, no custo de uma siderúrgica que está importando carvão da China.

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis mostram que 89% do gás no Brasil está associado ao petróleo; 83% é produção offshore e 76% vem de campos do pré-sal. Mais da metade – 53% – da produção de gás é devolvida aos campos.

Em 2023, segundo o Ministério de Minas e Energia, a produção foi de 150 milhões m³ por dia, dos quais 79 milhões foram reinjetados; 16 milhões usados para consumo interno; 16 milhões em queima e perda e 4 milhões absorvidos em UPGNs (Unidade de Processamento de Gás Natural). A oferta nacional ficou em 47 milhões de metros cúbicos dia.

O gás natural pode ser utilizado para substituir insumos derivados de petróleo, que são mais poluentes, como óleo combustível , óleo diesel, GLP e nafta. Além do carvão.