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Aguardada desde o ano passado, a Portaria que define as regras para Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) publicada nessa quinta-feira, 2 de janeiro, foi saudada pelas Associações que tiveram seus segmentos contemplados para a disputa que deve acontecer em 27 de junho. O certame terá sete produtos e envolverá térmicas a gás natural (o primeiro com entrega prevista já em 1º de setembro de 2025), ativos novos e existentes de biocombustíveis e a ampliação de potência de hidrelétricas, com entrega já a partir de 2025 até 2030.

Em comum está a decisão do governo em agregar recursos de potência com características de flexibilidade operativa que permitam atender à totalidade dos despachos definidos na programação diária estabelecida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Uma rotina que tem sido cada vez mais desafiada pela inserção das renováveis intermitentes, como eólica, solar e a geração distribuída. E que vê agora as máquinas síncronas como parte da solução.

Para a presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), Marisete Dadald, a avaliação inicial da Portaria é boa, com a definição de um produto hidrelétrico como reserva de capacidade sendo um marco histórico e um passo decisivo para o futuro do setor elétrico. “Reafirma o compromisso do Brasil com a confiabilidade do sistema elétrico e com a sustentabilidade e modicidade dos custos da energia para os consumidores”, comentou ao CanalEnergia.

Entre pontos que precisam ser aprimorados, Marisete salienta que a data de entrega estabelecida para 2030 é mais distante do que o setor hidrelétrico é capaz de atender, considerando o potencial de 7,4 GW de projetos já mapeados para participação no leilão. E que parte dessa capacidade poderia ser disponibilizada antes do prazo apontado, trazendo benefícios diretos ao sistema, consumidores e meio ambiente.

Também aponta existir mais 11 GW para ampliação de potência por meio da modernização e repotenciação de UHEs existentes, utilizando estruturas e reservatórios já instalados, com baixos impactos ambientais. “Os próximos avanços poderiam incluir a contratação de hidrelétricas operacionais sem contratos de energia firmados, estratégia já adotada para térmicas no primeiro LRCAP e que pode aumentar a eficiência e a flexibilidade no atendimento”, acrescenta a presidente da Abrage.

Entidade pede produto de potência e energia de biomassa no período seco e crítico do setor elétrico, já que coincide com a safra sucroenergética no Centro-Sul do país (Albioma)

O presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget), Xisto Vieira Filho, elogiou a postura do Ministério de Minas e Energia em conceber um certame não para atendimento da ponta, mas sim para a confiabilidade elétrica, e que a confiabilidade energética virá como um brinde. Mas alguns pontos não ficaram bem equacionados na sua análise, como a separação entre energia nova e existente, o que reduz a competitividade de qualquer produto.

“A tese da Abraget é que eu não quero saber se a energia é nova, existente, são energias disponíveis e é preciso ter um edital com as características que eu quero das máquinas e assim elas entrarem no leilão”, pontuou o executivo. Nesse caso de separação, que causou a maior surpresa para a entidade, outra consideração é que a energia existente está com um tempo de contrato muito baixo, de sete anos, apertado para melhorias na eficiência e modernização de usinas.

Apesar de celebrar a concepção de diversos produtos para o leilão, Vieira Filho ressaltou ser preciso a inclusão de térmicas a óleo combustível que não seriam despachadas na base do sistema, mas para partidas rápidas e pontuais em eventos que necessitam dessas características, superiores nesse tipo de usina em relação a qualquer outra, inclusive citando as baterias.

“Um produto quase que de reserva fria, que não vai gerar energia, a não ser para entradas e saídas rápidas com menor receio de emissões e um componente importante para deixar à disposição de qualquer operador”, defende, reforçando a ideia de um produto auxiliar de confiabilidade ao ONS.

Xisto lembra que o SIN está mudando a concepção com a entrada das renováveis complementares estendendo a curva do pato e as rampas que podem chegar a até 50 GW. E que se tivermos um ano mais ou menos seco já será dificílimo atender a uma rampa dessas apenas com hidrelétricas. “As máquinas síncronas vão entrar, acabar com o curtailment e o setor vai ver como é gostoso operar o sistema com confiabilidade”, prevê, afirmando que atualmente falta essa confiança para o Operador, principalmente por falta de suporte de reativos na região Norte e, principalmente, no Nordeste.

Por outro lado, o especialista indica que a questão do regime de penalizações ficou dentro de níveis mais próximos do que é feito internacionalmente, sendo um dos pontos elogiados para o certame. Assim como na consideração implícita de que as UTEs a gás natural, juntamente com as centrais nucleares, são as usinas da transição energética.

Máquinas síncronas vão entrar, acabar com o curtailment e o setor vai ver como é gostoso operar o sistema com confiabilidade.
Xisto Vieira Filho, da Abraget

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Também ouvido pela reportagem, o gerente de Bioeletricidade da Única, Zilmar Souza, apresentou três pontos a serem aprimorados para esse e os próximos certames. O primeiro seria a possibilidade de as UTEs renováveis poderem participar nos produtos com energia existente e de curto prazo, assim como previsto para o gás natural. O potencial seria justificado considerando uma grande oportunidade de contratos que já venceram nos últimos anos e nos próximos, vendo a necessidade de diretrizes mais favoráveis do ponto de vista da entrega de potência e energia ao longo do ano.

“Também poderia ser criado um produto de entrega de potência e energia no período seco e crítico do setor elétrico”, indica, lembrando que a geração do segmento na região Centro-Sul acontece justamente nesse período, sendo uma oportunidade de ter um produto sazonal para a biomassa de entrega de potência coincidindo com a safra sucroenergética. A terceira melhoria seria criar condições mais positivas para esses empreendimentos, reconhecendo a sua renovabilidade em emissões evitadas quando fossem concorrer com térmicas mais poluentes, como as de gás. “Seria interessante a remuneração desse atributo de emissões evitadas”, conclui Zilmar.

Já o presidente executivo na Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, destacou ao CanalEnergia que a entidade trouxe para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a contribuição do uso de motores ciclo Otto, a etanol, nas usinas de A&E como forma de prover potência, com despachabilidade de forma distribuída e potencial de centenas de pontos de injeção de potência nas unidades que não possuem emissão de gases de efeito estufa. Ele explicou que a entrada dos biocombustíveis no certame não foi uma surpresa, fez parte da proposta da entidade à CP 160, do ano passado que tratou do tema.

“Existem importantes fabricantes que já testaram o uso do etanol e deverão propor duas soluções à indústria, como à Wartsila e a MWM, do grupo Tupy, dentre outros”, conta o executivo. Ele afirma que o emprego de baterias certamente terá espaço como forma de retardar a presença da geração fotovoltaica, mas sem a capacidade de prover momento girante e a confiabilidade necessária ao sistema em casos extremos.

Paralelamente, a Cogen também propôs o uso de turbinas de condensação, tanto nas usinas de açúcar e etanol, como na produção do etanol de milho, com CVU maior do que zero e com razoável despachabilidade. “Outra opção confiável e renovável é o emprego de grandes turbinas na área de Papel & Celulose, com o despacho de máquinas de grande potência e de forma distribuída”, finaliza Duarte.