A busca pela redução da pegada de carbono ainda é um desafio no Brasil. Embora o País tenha uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com cerca de 88% oriunda de fontes renováveis de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), há diversos setores industriais considerados difíceis de descarbonizar por meio da eletrificação (conhecidos como hard-to-electrify) e que ainda dependem de combustíveis fósseis ou têm processos industriais complexos (chamados de hard-to-abate).
Uma das alternativas mais viáveis é o uso do gás natural. De acordo com dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas, esse energético tem 47,7% menos emissões que o carvão, 27,7% na comparação com o óleo combustível, 24,5% ante o diesel e 11,2% no confronto com o gás liquefeito de petróleo (GLP).
Na indústria, segundo a International Gas Union (IGU), o gás natural não só proporciona reduções significativas de emissões como também pode ser usado em uma variedade de aplicações. Além de combinar eficiência energética a uma produção mais limpa, o gás natural tem alto poder calorífico e é bastante estável, o que faz dele a fonte de energia ideal para produção de vidro, cerâmica, cimento, fundição de metais, entre outros usos – inclusive em geração elétrica, garantindo mais segurança energética.
Por isso, já vem cumprindo um papel importante na descarbonização de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), bem como praticamente zerando a emissão de materiais particulados, com impacto positivo na melhora da qualidade do ar nas cidades.
O PAPEL DO GNL NA DESCARBONIZAÇÃO DO TRANSPORTE
Dono de uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, o Brasil ainda tem oportunidades de descarbonização em sua matriz energética. De acordo com dados do Balanço Energético Nacional, divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o setor de transportes é o líder no país em termos de consumo de energia, com 33% do total, seguido pela indústria (31,8%).
A imensa maioria das frotas de veículos pesados no modal rodoviário, no entanto, ainda é movida a óleo diesel. Embora os motores a diesel ainda seguirão majoritários nos próximos anos, com 93% do total de veículos até 2034, conforme projeções do PDE 2034 (Plano Decenal de Energia 2034, produzido pela Empresa de Pesquisa Energética), as tecnologias híbridas e a gás natural são as que aparecem como alternativas mais viáveis em caminhões semipesados e pesados – o estudo vê a eletrificação como pouco significativa nesse tipo de veículo até a metade da próxima década.
Uma das iniciativas para reduzir a emissão de carbono são os chamados corredores sustentáveis, com o consumo de gás natural liquefeito (GNL) na logística para descarbonizar e conectar diversos estados brasileiros. O GNL é o gás natural resfriado a temperaturas aproximadas de -160 ºC, o que reduz seu volume em cerca de 600 vezes. Isso viabiliza o transporte para longas distâncias, permitindo autonomia de até 1.200 quilômetros. Em outubro, o ministro do MME, Alexandre Silveira, anunciou que um projeto da iniciativa privada irá implementar um corredor que ligará diversos estados brasileiros até dezembro de 2030 e implementará 35 centrais de abastecimento a GNL, com 3.000 quilômetros de extensão, ligando o Porto de Santos (SP) ao Porto de São Luis (MA).
A iniciativa acompanha tendência internacional. Globalmente, a consultoria Wood Mackenzie projeta que os veículos movidos a gás natural usados no transporte rodoviário de mercadorias substituam cerca de 360.000 barris por dia (bpd) de diesel em 2024 e 380.000 bpd em 2025. É o que vem acontecendo na China. Os caminhões a gás natural corresponderam a 42% das vendas de caminhões pesados da China de janeiro a agosto, em comparação com apenas 9% em 2022, de acordo com dados da CV World, uma provedora de pesquisa de veículos comerciais com sede em Pequim.
Além do uso como combustível logístico de menor pegada de carbono, outro mercado relevante será o que se chama de GNL B2B, em que o GNL é transportado de um terminal via caminhão até a indústria e o processo de regaseificação é feito na própria planta industrial – solução que contribui para os planos de descarbonização das empresas e suas metas ESG, fator relevante para ampliar a participação dessas indústrias em seus mercados.
GNL NO TRANSPORTE MARÍTIMO
Outro setor que avalia as alternativas para descarbonização é o de transportes marítimos.
O tema foi uma das pautas centrais do 1º Summit Connect Infra, evento realizado pela Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA) no final de novembro, no Parque Valongo, no Porto de Santos,
O Brasil consome, por ano, em média, um bilhão de litros de diesel só no transporte marítimo.
Entre as diversas alternativas do setor para substituir o bunker oil, o gás natural tem sido um dos mais utilizados no movimento de descarbonização de grandes operadoras logísticas internacionais. O relatório “Roadmap do Transporte Aquaviário” da EPE mostra que mais da metade dos navios encomendados para operar no comércio internacional utilizam o gás natural como propulsor em seus motores. O GNL tem sido a escolha principal – novas embarcações permitem a modalidade dual-fuel, combinando gás junto com o bunker.
Para dar conta dessa demanda, a boa notícia é que a oferta de GNL vem em franca expansão. Segundo o World LNG Report, da International Gas Union, o mercado global de liquefação registrou uma alta de 4,3% em 2023 na comparação com 2022.
No Brasil, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC), relativos aos três trimestres iniciais de 2024, a importação de gás natural no país cresceu 111,5% no acumulado do ano, ante o mesmo período de 2023. Somente em 2024 entraram em operação três novos terminais de GNL em distintas regiões brasileiras. Um deles é o TRSP, na Baixada Santista, o primeiro no Estado de São Paulo – o terminal tem capacidade de regaseificação de 14 milhões de metros cúbicos/dia e é operado pela Edge, empresa da Cosan.
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