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Confirmado em 9 de janeiro pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, a presença do La Niña no Oceano Pacífico Equatorial deverá persistir ao longo do verão. Segundo projeção da Climatempo, o fenômeno trará impactos diferentes sobre o setor de energia, sendo positivo para a geração hídrica e negativo para as fontes eólica e solar, em função de ventos menos intensos e da redução de dias de sol.
Em relação à geração das UHEs, a recuperação dos reservatórios começou já no início do período úmido devido aos altos volumes de precipitação bem distribuídos pelas diversas regiões, especialmente na cabeceira da bacia do rio Paraná, que inclui os rios Grande e Paranaíba. Com o La Niña, este cenário de chuvas deve permanecer durante todo o verão no Brasil Central.
Segundo a especialista em Clima e Mudanças Climáticas na Climatempo, Marcely Sondermann, o cenário deve ser próximo ao verificado ao longo da primavera de 2024, quando o resfriamento do Oceano Pacífico Equatorial e a consequente formação do La Niña favoreceram a ocorrência de zonas de convergência de umidade e aumentaram a frequência de chuvas sobre as principais bacias do Sistema Interligado Nacional (SIN). “A expectativa é que o fenômeno tenha agora no verão um efeito semelhante ao da primavera, contribuindo para a geração hídrica”, afirma a especialista.
Efeitos desfavoráveis
No entanto, Sondermann pondera que nem todas as regiões serão favorecidas por mais afluências. No Sul do Brasil, as chuvas já começaram a se tornar mais irregulares, indicando que o La Niña pode impactar também negativamente a geração hídrica na região, devido à redução esperada na precipitação, com predominância de dias secos e ensolarados.
No que diz respeito à produção dos aerogeradores, o fenômeno pode reduzir o potencial de geração no Nordeste, onde estão os principais parques do país. Isso porque a velocidade dos ventos é inversamente correlacionada às chuvas: em períodos mais úmidos, essa variável tende a diminuir.
Já para a solar, a previsão é de que o La Niña pode limitar a geração dos painéis fotovoltaicos por conta da maior frequência de dias nublados e chuvosos previstos enquanto o fenômeno durar, especialmente entre o Nordeste e o Sudeste. E sobretudo em estados como Piauí e Minas Gerais, onde estão localizados os principais parques solares brasileiros.
El Niño marcou os dois últimos anos
Entre 2023 e 2024, o clima foi impactado por um El Niño forte, que acarretou eventos extremos, intensificados pelos efeitos do aquecimento global. Houve alterações significativa do regime de chuvas e das temperaturas no Brasil. No Sul, as chuvas extremas e frequentes resultaram em inúmeros prejuízos sociais, econômicos e ambientais. Por outro lado, o Norte do país enfrentou duas secas severas históricas e consecutivas nesse período, que impactaram diretamente a geração e a transmissão de energia.
Por conta da seca histórica do rio Madeira, ocorreu o desligamento de uma das maiores linhas de transmissão de energia elétrica do Brasil, que conecta as regiões Norte e Sudeste. Já no Brasil Central, onde estão os principais reservatórios, o cenário foi de precipitações abaixo da média e intensas ondas de calor, que elevaram o consumo de energia. Essa combinação levou à queda nos níveis das UHEs e à necessidade de acionar termelétricas, elevando os custos e impactando diretamente o preço da eletricidade.