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Os próximos 12 meses deverão ser intensos para a Atlas Renewable Energy. A companhia projeta sair do atual patamar de 1,6 GW em potência instalada entre ativos em operação e construção e poderá alcançar 2,7 GW até o final do primeiro trimestre de 2026 na fonte solar fotovoltaica. Contudo, eólica e, principalmente, armazenamento, estão no radar da empresa. Esta última é classificada como uma solução técnica que ajudaria a mitigar o risco de corte de geração.
Em entrevista exclusiva ao CanalEnergia, Fábio Bortoluzo, country manager da Atlas Renewable Energy no Brasil, diz que uma solução regulatória e setorial é necessária, incluindo os geradores não centralizados.
“A bateria não é a bala de prata para a questão dos cortes, mas é a solução técnica que representa uma variável importante”, diz. “Estamos vendo a inserção de baterias no Chile (…) essa solução funciona em qualquer lugar desde que haja regulação do sinal econômico”, destaca.
Essa regulação viria do leilão de reserva de capacidade e serviria de base não apenas para o certame, mas sim para o mercado como um todo. Em sua análise ajudaria a melhorar as condições de fornecimento ao reduzir o risco operacional que o sistema apresenta. E admite que a companhia poderia adotar a tecnologia para seus ativos operacionais e novos mesmo não estando no LRCAP que ainda não tem data para acontecer, ou no leilão para sistemas isolados, que prevê mais de 20% em renováveis.
Leilão de Sistemas Isolados prevê obrigatoriedade de 22% de renováveis
Ele classifica essas contratações em leilões como um ponto de ignição da tecnologia por aqui. Mas ainda há que se discutir as regras, se estas podem ajudar na redução dos cortes ou ainda verificar a possibilidade de empilhamento das receitas advindas desses dispositivos e não apenas o curtailment ou a arbitragem de preços. Mas isso depende dos sinais que o regulador tem que atribuir ao dispositivo.
Os sinais econômicos que viabilizariam os armazenamento também passam pelo arranjo de negócio que seria permitido pelo regulador ao associar mais receitas ao empreendedor. Mas a equação ainda tem uma questão tributária, seja para os equipamentos nacionais ou importados, bem como a ausência de linhas de financiamentos específicos.
Mas, no caso do curtailment, a solução não é vista apenas com as baterias e a ampliação da infraestrutura de transmissão. O executivo classifica a situação como complexa. Ele lembra da posição do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que visitou no início de fevereiro a usina de Vista Alegre, em Janaúba, e citou a necessidade de um ponto de convergência entre os diversos interessados neste tema.
“Precisamos saber como é que será feito o ressarcimento dos cortes de geração que verificamos a partir da ocorrência de 15 de agosto de 2023”, aponta. “Não podemos sobreinvestir em transmissão, chega uma hora isso gera custo desnecessário no sistema”, comenta ele ao reforçar o papel das baterias que podem otimizar o uso da infraestrutura, adiando investimentos.
Outro argumento que Bortoluzo reforça na defesa dos sistemas de armazenamento é o de ajudar na expansão futura do consumo. Para ele, a sobreoferta estrutural de energia é uma situação pontual e que em breve deverá ser superada. Até porque o Brasil é o país do G20 que apresenta o menor volume de consumo de energia elétrica per capita.
Fábio Botoluzo acredita que armazenamento e transmissão são soluções que ajudam a mitigar cortes e reduzirão sobreoferta até final do ano que vem. (Foto: Divulgação/Atlas)
A necessidade de reserva de potência, que leva o governo a realizar dois LRCAP este ano para atendimento à ponta, é o melhor indicador de que a expansão continuará. E as baterias, que são recarregadas em horários de maior produção solar, durante o dia, ajudam nesse processo de atendimento à carga.
“Ainda há bastante espaço para crescimento da carga no Brasil, seja na eletrificação de atividades na indústria, comércio ou mesmo na classe residencial. Além disso, há perspectiva de novas cargas como data centers, nós já conseguimos nosso primeiro contrato nessa modalidade e entendemos que devemos ver mais demanda vindo por aí”, relaciona ele. “Com as obras de reforços da rede, novas linhas em construção, combinação com o armazenamento, nossa visão é de que, se usar a regulação e acelerar processo de uso das baterias, essa sobreoferta é reduzida já no final do ano que vem”, projeta.
Planos
A Atlas pretende chegar daqui a 12 meses com uma capacidade instalada da ordem de 2,7 GW instalados. Há ainda em desenvolvimento mais 2 GW entre projetos solares e uma parte eólica. Mas ele não cita quanto.
Com essa perspectiva para armazenamento fica evidente que a companhia está de olho nessa modalidade. Entre os motivos, mitigar os cortes de geração ao aproveitar a experiência que vem tendo no Chile com essa tecnologia. E nesse caminho estão avaliando os dois leilões previstos para que haja a inserção de armazenamento no país o LRCAP específico e o dos sistemas isolados.
Enquanto as regras não são conhecidas, a empresa continua a focar na construção de dois projetos em MG.
O empreendimento visitado pelo ministro neste mês é o Vista Alegre. Entrou em operação no final de 2024, está localizado em Janaúba (MG). A usina tem uma capacidade instalada de 902 MWp (o equivalente a 768 MW) e vai gerar cerca de 2TWh/ano. As usinas Luiz Carlos, com cerca de 600 MW de potência, no município de Paracatu (MG) e Draco, em Arinos (MG), com 500 MW, estão em obras e com a 100% da energia contratada.
“Temos um pipeline em desenvolvimento para contratar e com acordos próximos de serem assinados que somam 2 GW. A abertura de mercado foi o que nos permitiu fechar negócios com consumidores não eletrointensivos”, diz o executivo que aponta como modelo aplicado um mix entre grandes consumidores energointensivos, cujo contrato ajuda a financiar um projeto e que é complementado pelos de menor porte.