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O presidente da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), embaixador André Corrêa do Lago, divulgou carta nesta segunda-feira (10/03) convidando a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um mutirão global contra as mudanças climáticas. O documento pede o alinhamento de esforços de diferentes atores em todo o mundo, de governos a mercados de capitais, agentes tecnológicos, academia e povos tradicionais, e defende a ampliação de  recursos para países em desenvolvimento.

A conferência que será realizada em novembro desse ano, em Belém (PA), vai ser a primeira a ocorrer no epicentro da crise climática, alerta o embaixador. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado no mundo e o primeiro em que a temperatura média da terra ultrapassou 1,5°C acima de níveis pré-industriais. Janeiro de 2025 bateu um novo recorde como o mês mais quente já registrado.

“A COP30 pode ser o momento em que alinharemos os fluxos financeiros internacionais e integraremos as transições digital e climática em uma única nova revolução industrial que seja consciente em relação ao clima”, afirma o documento.

Em entrevista, Corrêa do Lago explicou que o objetivo da carta é convidar a comunidade internacional a abraçar a COP30. A ideia é ouvir muito e atrair outros atores, além dos negociadores e dos governos centrais, para discutir uma agenda de ações,.

“Na agenda de ação, nós estamos colocando agricultura, nós estamos colocando energia, estamos colocando florestas como temas absolutamente centrais para nós discutirmos com todos os atores. Porque, como eu disse, a agenda de ação é a agenda na qual todos os atores podem atuar juntos, na diferença com a negociação em si, que só os países negociam e cuja agenda é decidida também pelos conselhos.”

A carta é centrada em três pontos: o fortalecimento do multilateralismo em um momento complexo da geopolítica mundial; o estabelecimento de uma conexão entre as discussões sobre o clima e a vida das pessoas; e a aceleração da implementação do Acordo de Paris.

Para ao embaixador, é preciso ir muito além da Convenção do Clima e do Acordo de Paris, e é necessário todo o movimento institucional,  já que as mudanças do clima está atingem a economia e a política de maneira indiscutível, e as soluções tem que vir também dessas  áreas.

“A mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe. Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias. Se, em vez disso, optarmos por nos organizar em uma ação coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente.”

Alavancas

A carta fala em recrutar agentes privados interessados para se associarem como “alavancas”, ajudando a aplicar soluções onde pequenas mudanças podem ter grandes impactos em sistemas complexos. “Os incentivos que representam as regras e os limites de nossos sistemas podem se tornar fortes pontos de alavancagem para transições climáticas justas, rápidas e abrangentes.”

Também destaca a expectativa em relação a um avanço dos países em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para a redução das emissões de gases de efeito estufa, durante a COP30. Lembra que os governos têm a capacidade de “puxar as alavancas da ação climática” nas próximas NDCs, para o alinhamento aos objetivos do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.  O Brasil antecipou a revisão de suas metas no ano passado, durante a COP 29, no Azerbaijão.

A presidência da COP brasileira vai trabalhar com a da COP29 na construção de um “”Mapa do Caminho de Baku a Belém”, para aumentar o financiamento climático a países em desenvolvimento de US$ 300 bilhões para, pelo menos, US$1,3 trilhão por ano de fontes publicas e privadas até 2035. Juntos, os dois países devem produzir um relatório sobre o trabalho até a conferência do Brasil.

Esse mapa será um ponto de apoio para alavancar o financiamento para trajetórias de baixo carbono e de resiliência climática, com ações de adaptação e de mitigação. Para o embaixador, é a hora de bancos multilaterais de desenvolvimento e instituições financeiras internacionais “evoluírem para entidades maiores, melhores e mais eficazes, que apoiem estruturalmente uma ação climática mais ambiciosa.”

Maior ambição em relação a fósseis

Para a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a primeira carta da presidência da COP 30 “é um chamado a governos, sociedade civil, cientistas, empresários, povos indígenas e comunidades locais pela superação de diferenças e união em torno da inauguração de um novo tempo da ação climática, focado na implementação dos compromissos firmados ao longo da última década, desde a assinatura do Acordo de Paris.”

Já secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, acredita que vai ser necessário uma grande pressão e união para que os combustíveis fósseis entrem na pauta da COP. “Apesar do cenário internacional adverso, a liderança do Brasil na COP 30 abre essa oportunidade. A carta da presidência diz que a COP30 pode iniciar uma inflexão na luta contra a crise climática e que podemos ganhar de virada. Para virar esse jogo, o Brasil terá que jogar no ataque.”

Já o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Toya Manchineri, apontar as florestas como uma resposta importante para a urgência climática é um acerto da presidência do evento, mas a verdadeira solução para crise climática está na mudança de suas causas. “A preservação das florestas só será eficaz se ampliarmos a demarcação das terras indígenas, tivermos um bom financiamento direto e fizermos a transição para uma sociedade de baixo carbono — e isso precisa ser rápido. Não podemos mais adiar a eliminação dos combustíveis fósseis. A cautela na carta sobre esse assunto exige mais coragem e ambição.”