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A indústria do hidrogênio verde no Brasil está em um momento delicado. Ao mesmo tempo que precisa ser escalada por ainda estar em uma fase inicial, enfrenta a alta das taxas de juros que estão altas no país. Em decorrência dessa situação passa pelo aumento de custos. Assim o preço do insumo está em um patamar entre US$ 6,7 a US$ 7 por quilo, segundo levantamento da BloombergNEF. Segundo a consultoria, países como China, Índia, Espanha e Arábia Saudita apresentam valores menores do que o insumo a ser produzido localmente.
Para Luciana Costa, diretora de Infraestrutura Transição Energética e Mudanças Climáticas do BNDES, o desafio para escalar investimento está relacionado à natureza dessa modalidade ser de capital intensivo. Por conta dessa característica enfrenta o desafio das altas taxas de juros, combinadas com a fase inicial em que se encontra no mundo e, naturalmente, é mais cara do que o hidrogênio cinza.
A executiva destacou que o BNDES pode ajudar nesse momento porque conhece o setor e tem experiência passada em ter escalado tecnologias novas em outros momentos. Ela citou os casos da eólica e, posteriormente, a solar. “Precisamos de políticas públicas e que o BNDES haja como indutor desse financiamento a novas fontes como já fez com eólica solar”, destacou em sua participação no BNEF Forum, realizado nesta terça-feira, 1° de abril.
Essa participação do banco de fomento é considerada como importante por proporcionar, além dos recursos, bancar a percepção de risco em menor patamar para outros investidores.
Luís Viga, country manager da australiana Fortescue no Brasil, diz que o H2 Verde no Brasil está mais caro mesmo do que a projeção da BNEF para o final da década, que apontava a perspectiva de chegar a US$ 1,50 por quilo. Mas ressalta que o Brasil tem a vantagem de já ter a matriz limpa. Ele considera que faz todo sentido produzir a molécula localmente, pois temos, em suas palavras, um ambiente quase perfeito, com recursos renováveis e infraestrutura.
“Acreditamos que o Brasil tem os melhores fundamentos”, pontua. “Se tem um lugar no mundo para dar certo é aqui, são mais de 50 MoUs e 50 GW de capacidade, mas o mercado não acontece no curto prazo, diria se realizar entre 5 GW e 10 GW seria enorme passo”, sinaliza o executivo que também é presidente do conselho da ABIHV.
Contudo, André Clark, da VP Siemens Energy Brasil, afirma que o problema não é produzir energia. Em sua avaliação, o problema é o que fazer com o insumo que deve ter consumidor perto de seu ponto de produção.
Nesse sentido, diz Viga, eletrificação é o caminho. E são dois grandes consumidores, enormes consumidores, que vão alterar totalmente o perfil de demanda. Que é o hidrogênio verde, onde está falando de projetos de 1 GW e projetos de data center e que demandam infraestrutura de redes. Tanto que defende uma mudança na forma de planejamento desse segmento para que haja um alinhamento maior entre demanda e fornecimento.
“Temos que ser mais ágeis”, define.
Essa questão do acesso à rede tem sido um dos principais gargalos para as empresa. A Fortescue também vem enfrentando essa questão com a negativa do Operador ao pedido de acesso. “É o grande desafio que a gente tem hoje. Não estou questionando isso. Mas a questão agora, a gente tem que dar uma resposta para os investidores. Porque isso aí causa insegurança jurídica ou insegurança do próprio investimento. Sem conexão, você não tem investimento. Então, a palavra aí de novo é colaborar. Como que a iniciativa privada pode colaborar para antecipar esses estudos, entregar estudos que estejam de acordo com as necessidades do nosso grid, com a segurança do nosso grid, que proteja o consumidor elétrico, mas também atenda a necessidade do Brasil de fazer novos investimentos”, destaca o executivo.
Segundo ele, se o problema de acesso à rede não for resolvido rápido, atrasará a decisão de investimento da empresa que detém um projeto de 1,2 GW no Porto do Pecém (CE).
Viga está otimista ao citar que o MME contratou um estudo que envolve uma linha de 4 GW. Contudo, essa transmissão teria o prazo de entrega para 2032. Esse prazo está apertado pois os projetos que já estão começando a ter uma decisão de investimento tem uma necessidade de 2029 ante uma tomada de decisão em 2026.
No caso da empresa, que comanda no país, a demanda seria por 1,3 GW considerando a planta mais algumas atividades secundárias da planta. Além disso, a empresa precisaria da conexão para 2029 para o projeto estimado em mais de R$ 20 bilhões.
Para Viga, o valor do H2 Verde é até mais baixo, do que o valor estimado pela BNEF. Mas, atualmente, a indústria não está tão otimista para 2030. “Acredito que chegaremos a US$ 1,50 por quilo, que era o preço de paridade com cinza, talvez para 2035”, finaliza.