A transição energética precisa de ações de eficiência em mesma medida que o avanço das renováveis para ocorrer. O potencial de economia anual é de US$ 430 bilhões até 2030 e está concentrado em diversas áreas da economia. Tem como benefício reduzir a intensidade de consumo energético para fazer mais e de forma mais eficiente. Apesar do potencial, no ano passado houve um decréscimo nas ações voltadas a esta iniciativa ante 2023. Ainda assim, a perspectiva é positiva diante das declarações de empresas em uma pesquisa feita pela entidade Movimento de Eficiência Energética (Energy Efficiency Movement).
O diretor geral da entidade, Mike Umiker, disse em entrevista ao CanalEnergia que a eficiência energética, de uma forma geral, ainda é um pouco desconhecida nesse processo para que as metas de Net Zero 2050 sejam atingidas. Mesmo sendo uma das frentes de ação indicadas pela Agência Internacional de Energia para que as metas sejam alcançadas.
“Vemos que a eficiência energética tem uma grande contribuição nesse caminho, vem antes mesmo das energias renováveis. Sempre dizemos que antes de fazer qualquer investimento, pense primeiro em como você pode reduzir seu consumo de energia”, diz o executivo. ”O segundo ponto é sobre a energia que você não precisa e, por isso, não consome e se não precisa dessa energia, não é necessário produzi-la”, acrescenta.
Inclusive, Umiker, que esteve no Brasil no final de março, lembra que com as circunstâncias geopolíticas atuais, a visão sobre as ações de eficiência começou a mudar um pouco. Para ele, as ações ficaram ainda mais importantes. Afinal, refere-se ao fato de que é possível proteger a economia de um país tornando a energia acessível, o consumo seguro e confiável. “Se você investir em soluções de eficiência energética, poderá reduzir seus custos”, define.
De forma geral, as ações de eficiência energética estão apresentando um retorno sobre o investimento entre 2 a 3 anos, mesmo que os preços da energia sejam mais baixos, estima o executivo. Mesmo com o momento em que vemos a imposição de tarifas e incentivos à indústria do petróleo pelos Estados Unidos, Umiker destaca que a eficiência continuará a desempenhar um papel relevante no mundo. “Obviamente, isso também faz parte da eficiência energética para garantir que não haja desperdício. Consumir o máximo que você pode”, comenta.
A pesquisa que a entidade divulgou com os dados colhidos em 2024 mostra que o potencial de economia com a eficiência energética chega a 11% do CO2 emitido globalmente até 2030. Esse resultado pode ser obtido por meio de 10 ações que a indústria pode adotar. Esse volume, calcula a entidade, equivale a economizar 60% das emissões dos carros com motor a combustão de hoje.
Em termos financeiros a, diz, a indústria pode economizar US$ 430 bilhões anualmente até o final da década. “Você pode fazer algo bom para a Terra, mas também pode ganhar dinheiro com isso”, ressalta. Esses números, continua ele, referem-se aos 11% de melhora com a eficientização, mas representa triplicar os resultados dessas ações, acima do que a AIE estima como necessário para o Net Zero. Apesar das metas de 32 países, o problema é que o mundo não está alcançando esses índices para eficiência.

Mike Umiker, do Energy Efficency Movement
Ele explica esse comportamento ao expor que ainda há barreiras para as empresas. No Brasil, especificamente, os custos estão em primeiro lugar. No mundo, esse é um dos fatores que impendem o avanço. Contudo, cita ainda a dificuldade de encontrar pessoal especializado para conduzir as ações de eficiência nas indústrias. A infraestrutura de redes também aparece como uma das principais preocupações para que a eficiência energética avance em seu potencial, além, é claro, do tempo que uma planta necessita ficar paralisada para a adoção de ações nesse segmento.
“No entanto, muitas empresas veem que o aumento dos custos de energia se tornará uma ameaça ainda maior do que no passado”, diz.
Mas o processo de busca pela eficiência, apesar de não avançar ao ritmo de aproveitar todo seu potencial, está avançando. Segundo o diretor da entidade, desde 2022, com a primeira pesquisa, o cenário é positivo. Há mais conscientização sobre os benefícios e a digitalização dos processos está acontecendo, pois o custo do investimento sempre será um ponto crítico.
“Eu acho que muito tem a ver com mentalidade. Mas independentemente se os custos permanecerão, o que realmente tentamos fazer de um movimento é dizer, ei, olha, se você investir nessas soluções, é um caminho para seus negócios”, destaca Umiker, lembrando que empresas de grande porte mantém seu compromisso com a eficiência energética apesar do momento de estabilidade nas ações desse segmento por se tratar de ações de longo prazo.
Ele reforça o entendimento da relevância da eficiência energética ao lembrar que, segundo a Agência Internacional de Energia, essas ações serão responsáveis por mais de um terço da contribuição para chegar ao Net Zero 2050. Essas ações combinadas levarão o mundo a alcançar a meta do Acordo de Paris em sua avaliação.
“Você falhará se não estiver olhando para a eficiência energética e apenas optar pelas energias renováveis”, alerta ele ao destacar que o consumo seguirá em crescimento com o avanço da população e eletrificação das cidades. “É sempre mais barato investir primeiro em eficiência energética para reduzir o consumo de energia, assim você também pode dimensionar corretamente seu investimento em energias renováveis. Então, é muito importante entender que há uma forte dependência entre esses dois elementos”, reforça.
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