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A volatilidade dos preços da energia este ano deverá ser uma constante ao longo de 2025. Esse é o resultado de parâmetros do CVaR mais sensíveis quando comparados ao que estava vigente até o final do ano passado. Como consequência também deverá influenciar no acionamento das bandeiras tarifárias, começando com a amarela já em maio. Essa instabilidade já está no radar de empresas e até da Abraceel que solicitou uma consulta pública para rever os parâmetros vigentes para este ano.
Desde meados do ano passado o setor já sabia que os novos parâmetros para o modelo de aversão ao risco seria a combinação 15/40, ante a 25/35 para o alfa e lambda. Esses índices é como se o modelo colocasse uma lupa e exacerbasse a análise sobre os 15% dos eventos extremos e aplicasse peso maior. Renato Mendes, gerente de Inteligência de Mercado da Ultragaz Comercializadora de Energia, explica que essa mudança colocou mais peso sobre os cenários mais extremos.
Segundo estudo que ele fez, os resultados combinando o Newave híbrido e a calibração do CVaR mostram um modelo mais sensível e que tende a aumentar de forma mais intensa o valor da energia elétrica ao passo que se verifica alterações das vazões. O resultado dos estudos, explica ele ao CanalEnergia, deve ser o resultado dessa calibração que deixa dos 25% para 15%.
Mendes destaca que o período de testes para essa nova calibração no newave híbrido pode ter sido reduzido. Agora tem mostrado um nível de risco maior com esses índices que passaram a valer em janeiro e representaram a última revisão da CPAMP, que deixou de existir oficialmente.
“Estamos em uma tempestade perfeita, mas sem água, pois vivemos um bimestre mais seco que o normal em fevereiro e março. Sem a falta de água, os valores ficam mais comportados, mas o que temos visto é uma resposta mais exacerbada, reflexo do nível de risco mais elevado”, aponta.
“Estamos em uma tempestade perfeita, mas sem água, pois vivemos um bimestre mais seco que o normal em fevereiro e março”, Renato Mendes, da Ultragaz Comercializadora
Com um cenário de respostas mais exageradas quando houver alguma variação mais abrupta de vazões a incerteza aumenta, ainda mais diante de um período de neutralidade quanto a fenômenos climáticos como o que temos passado agora após um La Niña mais brando.
Fred Menezes, diretor-executivo da Armor Energia, lembra que as perspectivas para o ano começaram positivas com o período úmido iniciando até mais cedo do que o normal. Inclusive, ele acredita que a partir de maio a situação de valores de energia mude e chegue até mesmo ao acionamento da bandeira amarela com possibilidade de vermelha em junho.
Ele aponta que esse comportamento dos preços da energia devem-se às já citadas mudanças no CVAR e no Newave híbrido. Segundo sua análise, essas alterações aumentaram a sensibilidade do modelo, tornando-o mais conservador quanto aos preços.
“No ano passado, o CVAR era diferente, com aqueles parâmetros o modelo entenderia um pouco mais demorada essa questão do estresse hídrico, agora, com os níveis adotados em 2025, a aversão aumentou elevando as probabilidade de preços maiores”, aponta. “Agora o modelo manda acionar as térmicas mais rápido. A implicação é que o reservatório não segura mais os preços no piso como vimos no ano passado”, afirmou.
Em sua avaliação as bandeiras tarifárias deverão ser pressionadas até a retomada do período úmido na temporada 2025/2026. Apesar de admitir que poderão ocorrer anomalias, a volatilidade do modelo deverá responder de forma mais exagerada aos sinais. Em geral, o preço da energia no mercado deverá ficar na faixa de R$ 380 por MWh no segundo semestre e em julho deverão ficar equacionados entre todos os submercados do país, fator que não vem ocorrendo desde fevereiro.
De acordo com Pedro Vidal, diretor de comercialização da Light Com, a fotografia do momento indica que os preços poderão chegar à casa de R$ 400 por MWh, caso o período seco seja mais severo nos primeiros meses.
“Para o segundo semestre que a gente tem visto que os preços estão girando em torno de R$ 300 a R$ 350, hoje a gente tem uma sobra de energia ainda para o período, então há essa expectativa do preço ainda subir um pouco mais”, destacou o executivo. “Nossa visão hoje é que possamos ver novos picos, o modelo está muito avesso a risco, se a gente, por exemplo, tiver um início de período seco agora, abril, maio, com pouca chuva no sul, por exemplo, o modelo dispara, então é possível sim que a gente tenha, por exemplo, em agosto ou setembro, preços mais elevados que a gente está vendo agora. Por enquanto, é R$ 350,00, nessa faixa”, analisou.
Ele explica que a empresa vem indicando para os seus clientes que é hora de tentar antecipar a compra de energia para se prevenir um pouco dessa volatilidade. Os consumidores precisam evitar ficar descontratados, porque com esses novos parâmetros do CVaR, o modelo está realmente mais avesso a risco. “Se ficar de duas a três semanas sem chover o preço sobe muito rápido”, resumiu.
Esse cenário de alta volatilidade levou a Abraceel a enviar carta ao MME solicitando a abertura de uma nova consulta pública para discutir possíveis alterações nos parâmetros do CVaR. A meta é a de debater, com a devida antecedência, novos parâmetros de aversão ao risco ao longo do primeiro semestre e que uma eventual recalibragem possam entrar em vigor em 2026.
A associação destaca que o aprimoramento dos modelos de formação de preços é tema prioritário para os agentes do setor, uma vez que o sinal de preços é o principal indutor da eficiência econômica e da otimização da operação do sistema.
“Estamos indicando para os nossos clientes que é hora de tentar antecipar a compra de energia para se prevenir um pouco dessa volatilidade”, Pedro Vidal, da Light Com
No documento, a Abraceel também defende a definição de critérios objetivos e transparentes para orientar futuras revisões dos parâmetros de risco, assegurando coerência, previsibilidade e solidez técnica às decisões do setor elétrico.
A entidade lembra que o CMSE aprovou na última reunião ordinária, em 9 de abril, abertura de Consulta Pública, por 15 dias, mas para debater a definição dos critérios, ritos e prazos próprios para avaliação e aprovação de alterações no nível de aversão ao risco a ser adotado nos modelos computacionais utilizados, inclusive quanto às referências a serem consideradas para a caracterização de alteração ou manutenção do nível de aversão ao risco.
Eduardo Rossetti, diretor de Produtos e Marketing da BBCE, diz que dentro da plataforma ainda não foi possível identificar algum movimento de reposicionamento por parte de comercializadoras como ocorreu quando o PLD estava deixando o piso na virada de 2023 para 2024. Contudo, esse momento ainda pode ser um reflexo da situação de estresse vivenciado por conta do risco de inadimplência que tomou o setor. Ele lembra que ainda há restrição de credito apesar da liquidez ter retornado.
Ele explica que os valores para o produto entregue em abril apresentaram um salto a partir de 2025. Ao final do ano passado estavam em R$ 98,51 e no dia 28 de fevereiro estavam em R$ 251,64 por MWh. Outro exemplo citado por ele foi a energia para o ano de 2026 que em março de 2024 estava cotada a R$ 151,49 e em 31 de março deste ano já apresentava o patamar bem mais elevado, a R$ 233,89 por MWh.
Contudo, nas primeiras semanas de abril, os valores apresentavam direções diferenciadas, dependendo do prazo, conforme a tabela abaixo.
Preços de energia convencional Sudeste negociadas ao longo de fevereiro a abril de 2024 por data e por prazo de entrega. (Fonte: BBCE)
“O mercado gosta de volatilidade, mas acho que cada vez mais precisa de segurança para poder travar as posições. Temos falado que não há abertura do mercado sem segurança que permite termos liquidez, que por sua vez estimula mais liquidez para o mercado”, finalizou.