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A Atlas Renewable Energy inaugurou oficialmente seu maior sistema de armazenamento de energia em baterias no tipo BESS stand alone. Nomeado como BESS del Disierto, o ativo está localizado há cerca de 80 km da cidade de Calama, a porta de entrada para o Deserto do Atacama, no Chile. O local poderia ser facilmente utilizado para gravações de filmes para o cinema com a temática de exploração de Marte, não fosse a existência de uma estrada pavimentada e de linhas de transmissão ao longo de todo o trajeto, isso porque o solo é formado por montanhas e planícies extensas cobertas de pedras e sem uma única presença vegetal aparente.
A escolha da localização deste sistema não ocorreu de forma aleatória. A região é considerada a mais seca do mundo. No deserto do Atacama há em média a ocorrência de dois dias de chuvas ao ano. Em geral não há nuvens, está localizada em altitudes em cerca de 2 mil metros em relação ao nível do mar, o que reduz a interferência da temperatura ambiente. Além disso, por ser deserto não há necessidade de supressão vegetal e possui alta reflexão do solo, permitindo o uso, inclusive, de painéis bifaciais.
De acordo com uma estimativa do country manager da Atlas no Brasil, Fábio Bortoluzo, no Chile essa característica pode elevar o volume produzido em 20%, ante o uso de painéis de frente única. Para fins de comparação, no Brasil, a face dupla pode aumentar em 7% a 8% a geração.
Os dispositivos dividem a área com uma usina solar de 240 MWp que a empresa possui na região. O investimento na planta foi de US$ 250 milhões e conta com 200 MW de potência instalada e capacidade de armazenamento de 800 MWh que serão descarregados diariamente em um período de 4 horas a pedido do SEN, órgão equivalente ao Operador Nacional do Sistema Elétrico.
A companhia explica que o projeto foi viabilizado por meio do contrato fechado com a Copec por meio de sua comercializadora, a EMOAC. A energia será utilizada à noite para o abastecimento de ônibus urbanos em três grandes centros, na capital Santiago, Concepción, mais ao sul, bem como na própria região de Antofagasta, onde está instalado o projeto.
Segundo a Atlas, os dispositivos serão carregados diariamente por volta das 11h da manhã, quando os preços de energia no mercado chileno estão mais baixos. Essa medida, porém, deve ser avaliada pelo operador do sistema chileno antes de ser iniciada. A janela de recarregamento vai até às 16h.
Conjunto de baterias será carregado durante o dia e descarregado à noite para abastecer ônibus urbanos elétricos em regiões até 2 mil km distante. (Foto: Maurício Godoi/CanalEnergia)
Novos projetos
Apesar de o Brasil ser o maior país onde a Atlas atua, a companhia continua a investir em solar e baterias no país andino. Com a conclusão de Sol e BESS do Disierto, a companhia firmou um acordo com a Colbún para um novo ativo dessa natureza nessa mesma região, o município de María Elena. O projeto contará com baterias independentes e autônomas para armazenar o excedente gerado em energia em um projeto um pouco maior do que o recém-inaugurado. Serão 230 MW e armazenamento diário de 902 MWh também equivalente a 4 horas.
Esse contrato é de 15 anos. Assim como em Disierto, a Atlas será a responsável pela construção do BESS, enquanto a empresa receberá 335 GWh por ano de energia proveniente do sistema. Além deste, há um outro contrato com a Codelco, ambas atuam no segmento de mineração, setor este que responde por cerca de um terço de todo o PIB do Chile.
Nomeado de Estepa, este será um projeto híbrido – solar e BESS – com potência instalada de 215 MWp que produzirá 600 GWh anuais. Os dois sistemas de armazenamentos somarão 418 MW. O investimento nesses ativos será de US$ 510 milhões por meio de um financiamento junto a bancos como o BNP Paribas, Crédit Agricole, Scotiabank Chile e outros. A estimativa é de que esses ativos entrem em operação comercial ao final de 2026.
Meta chilena antecipada
Assim como no Brasil, o Chile possui alto volume de geração renovável intermitente em seu sistema, mais notadamente no Norte do país, e convive com o curtailment devido ao excesso de geração em determinado período do dia quando a demanda não é o suficiente para o volume injetado no sistema elétrico.
Com este cenário, o país estabeleceu metas para mitigar esses efeitos e alcançou-as com 5 anos de antecedência para o uso de armazenamento em baterias BESS stand alone. Inicialmente, a estimativa era de chegar a 2 GW apenas em 2030. Esse é um dos itens que forma o tripé que o governo local quer desenvolver para avançar na economia.
Segundo o ministro de Energia do país, Diego Pardow Lorenzo, esse volume agora é esperado para o mês de janeiro de 2026. “O potencial teórico atual é de algo como 6 GW entre projetos em construção e outros em desenvolvimento. Atualmente, 80% de todos os sistemas de armazenamento de energia estão no norte do país e ajudarão a trazer estabilidade à rede”, destaca.
O executivo reconhece ainda que são necessárias melhorias na rede do país. Até porque são dispositivos mais recentes. “Temos questões técnicas que precisam ser mais detalhadas e atualizadas. Essa é uma tecnologia que não existia de forma massiva há 20 anos”, afirmou Lorenzo a jornalistas.
Chile tem potencial de 6 GW até 20230, diz ministro de Energia, Diego Lorenzo, em evento de inauguração da Atlas no deserto do Atacama. (Foto: Divulgação/Atlas)
Em sua avaliação, essa antecipação das metas chilenas foi possível em decorrência da redução dos preços das baterias em nível global. Contudo, diz que a lei da transição energética do país que foi publicada e entrará em vigor ainda em 2025 terá papel importante para o país e no que diz respeito ao curtailment.
O segundo ponto dessa base é aumentar a eletrificação da economia no processo de transição energética. Esse caminho, afirmou o executivo, é observado para aumentar a competitividade e a produtividade da economia chilena, que em suas palavras, estava estacionada há 10 anos por falta de condições de ter energia barata.
O terceiro é destravar os gargalos de transmissão de energia, pois o potencial solar é mais elevado no norte do país. Contudo, o centro de carga no Chile está na região metropolitana de Santiago que é o centro econômico e político do país, cerca de 1.500 km rumo ao sul de Antofagasta.
*O repórter viajou a convite da Atlas Renewable Energy